De volta à Mansão McCray

Depois de muitos anos, voltei à casa de minha falecida tia Luella McCray, uma imponente construção estilo Shingle em Bay Head, Nova Jérsei. Minha prima solteirona Adeline, agora a proprietária da casa onde era assistida por meia dúzia de empregados, fizera-me um convite para avaliar o imóvel, visto ter interesse em desfazer-se dele.

- A casa já era grande demais para mim e mamãe, - declarou ela, enquanto tomávamos limonada no gramado dos fundos - e agora então, não se justifica manter toda essa estrutura para apenas uma pessoa.

- O mercado imobiliário local não está dos melhores, após a Crise da Bolsa, - redargui - mas como a situação na Europa também não anda lá muito tranquila, posso tentar conseguir algum comprador estrangeiro... quiçá em Londres ou Paris.

- Um estrangeiro seria perfeito - animou-se ela. - E provavelmente vou levar pouca coisa dos móveis e decoração... meu objetivo é usar o dinheiro da venda e comprar uma casa na Califórnia, talvez em San Francisco.

- Uma mudança radical, devo admitir. Então, a ideia é vender o imóvel com tudo o que tem dentro? Precisarei fazer uma avaliação detalhada, o que pode levar alguns dias...

- Você pode se hospedar aqui - sugeriu ela. - Mando arrumar um dos quartos de hóspedes, e você economiza o dinheiro do hotel.

Aceitei a sugestão, já que me facilitaria o trabalho. Calculei que, em no máximo dois dias, terminaria o levantamento e retornaria à Nova Iorque para fazer contatos no mercado imobiliário. E assim, tirei minha mala do carro e um criado a levou para um quarto no andar superior da ala sul da propriedade.

- A patroa vai mesmo vender a casa? - Perguntou o rapaz, ao deixar minha mala no quarto de hóspedes.

- É o que parece - redargui, dando-lhe 25 centavos de gorjeta.

- Talvez seja mesmo uma boa ideia - disse-me ele, agradecendo pela moeda.

* * *

O jantar foi servido às 20 h, num salão que comportaria facilmente uma dúzia de pessoas. Adeline pareceu-me ansiosa em saber o que eu estava achando do imóvel e sobre a possibilidade de conseguir passar o mesmo adiante rapidamente.

- Bem, como lhe disse, isso depende de haver alguém interessado em residir numa região tranquila como Bay Head, embora não tão distante de Nova Iorque...

- Foram justamente estas características que atraíram mamãe para cá - comentou Adeline.

Estávamos no meio da sobremesa (torta de banana), quando o telefone localizado na entrada do salão começou a tocar. A reação de Adeline foi, no mínimo curiosa: deixou cair a colher de prata no prato de sobremesa, rosto lívido, olhos arregalados.

- Por que os criados não atendem? - Indaguei, olhando ao redor.

Ela apenas balançou negativamente a cabeça, sem dizer palavra. Finalmente, a campainha calou-se. Minha prima deu um suspiro de alívio e comentou, com naturalidade forçada.

- Alguém passando um trote... tem ocorrido vez por outra, nos últimos dias. Avisei aos criados que não atendessem.

- Um trote? - Retruquei, admirado. - Se for algum desocupado, você deveria dar queixa à polícia.

- Não é nada - insistiu ela. - Devem ser crianças... não precisa atender, nunca falam nada.

Achei tudo aquilo muito estranho, mas me calei.

Depois do jantar, fui para o quarto, ler algumas revistas que havia trazido de Nova Iorque. Ao abrir a porta, deparei-me com um gato angorá branco, deitado sobre minha cama. O felino ergueu a cabeça e encarou-me com seus grandes olhos azuis.

- Ei, como você entrou aqui? - Indaguei.

Antes que eu me aproximasse, ele deu um pulo, e mais do que depressa, passou feito um raio pela porta entreaberta. Tentei ver para onde havia ido, mas o bichano desapareceu na obscuridade do corredor. Após um exame do aposento, não vi nenhuma passagem pela qual o animal poderia ter entrado ali - a não ser que houvesse uma portinhola secreta. Acabei concluindo que o gato deveria ter invadido o aposento em algum momento no qual eu abrira a porta, e prometi ser mais cuidadoso da próxima vez.

[Continua em "Caroline"]

- [05-07-2019]