ORA, EDMUNDO!
-CONTO PREMIADO COM O PRIMEIRO LUGAR NO 1º CONCURSO DE CONTOS E CRÔNICAS DE OURINHOS/SP-
Ele me olhava, do outro lado da mesa, com um olhar desacreditado. Ora, Edmundo, o mundo é tão grande e o coração não para! Mas ele parou. Parou no passado. E o passado? Bom…o passado é só uma história que contamos para nós mesmos. Então me conta, Edmundo! E me contou. A história começava em algum barzinho sujo da rua 12. Me contou de como gostava de diluir timidez em álcool e em como, em uma dessas travessuras, foi atravessado. Alguns chamam de cupido, outros, de destino. Eu? Eu chamo de ironia. Quanto a você? chame do que quiser; Edmundo não escutava. Ouvia apenas as engrenagens; o tilintar metálico da vida se desenrolando. E para ele, o resto da vida acabava de entrar pela porta. Ora, Edmundo, em que mundo vives? logo você, criança rebelde, se fascinar tanto com o bater de asas de um pássaro negro? Batom vermelho, vestido preto, coração seco. É fato que algumas pessoas não tem um mundo próprio, habitam o de outros. Não era o caso de Edmundo; carregava o mundo em seu nome. Sustentava o peso do Ser nos calcanhares e, quem dera fosse Aquiles, mas nasceu Edmundo; a fatal flecha o atingiu no peito. Entregou seu mundo, assim, de bandeja. Uma cortesia delirante de quem idealiza. Me contou também de como reinavam em reinos de papel, rabiscando sorrisos tortos num discernimento incomum de quem não pertencia. Mas queria. Ora, Edmundo, em que mundo vives? vivendo o rascunho! sendo moldura jamais será a obra de fato! tudo o que fizer, será para enfeitá-la. Grandessíssimo tolo. A sustentaria em paredes de galerias frias para que olhares a aprovassem. E sem explicação ou aviso prévio, ela escapou pelo canto dos olhos. Me contou, também, de como transformava a nostalgia do que eram em um mundo próprio, palpável, o qual sempre visitava. Ora, Edmundo, o que pensava? tropeçou nos próprios pés, se afogou na própria saliva. Esse pássaro negro que tanto amas se empoleirou com os pés em chamas e te marcou; um estigma perfeito. Admirava tanto a liberdade aterradora deste ser fantástico que atrofiou as próprias asas em um ato sádico. Então, a história nos traz ao agora. Eu, Edmundo e seu olhar desacreditado. Degustando sua melancolia em pequenas doses, inalando a incompreensão em enormes tragos, Edmundo e seu mundo apocalíptico tentavam se comunicar. Berrava em desespero a alma do rapaz, silenciada apenas pelo copo (e alguma tosse). Eu posso te ajudar? O breve aceno de cabeça me indicava que sim. Então me conta, Edmundo! Como posso te ajudar? Agora, a única coisa a se fazer é tocar um tango argentino.
-CONTO PREMIADO COM O PRIMEIRO LUGAR NO 1º CONCURSO DE CONTOS E CRÔNICAS DE OURINHOS/SP-
Ele me olhava, do outro lado da mesa, com um olhar desacreditado. Ora, Edmundo, o mundo é tão grande e o coração não para! Mas ele parou. Parou no passado. E o passado? Bom…o passado é só uma história que contamos para nós mesmos. Então me conta, Edmundo! E me contou. A história começava em algum barzinho sujo da rua 12. Me contou de como gostava de diluir timidez em álcool e em como, em uma dessas travessuras, foi atravessado. Alguns chamam de cupido, outros, de destino. Eu? Eu chamo de ironia. Quanto a você? chame do que quiser; Edmundo não escutava. Ouvia apenas as engrenagens; o tilintar metálico da vida se desenrolando. E para ele, o resto da vida acabava de entrar pela porta. Ora, Edmundo, em que mundo vives? logo você, criança rebelde, se fascinar tanto com o bater de asas de um pássaro negro? Batom vermelho, vestido preto, coração seco. É fato que algumas pessoas não tem um mundo próprio, habitam o de outros. Não era o caso de Edmundo; carregava o mundo em seu nome. Sustentava o peso do Ser nos calcanhares e, quem dera fosse Aquiles, mas nasceu Edmundo; a fatal flecha o atingiu no peito. Entregou seu mundo, assim, de bandeja. Uma cortesia delirante de quem idealiza. Me contou também de como reinavam em reinos de papel, rabiscando sorrisos tortos num discernimento incomum de quem não pertencia. Mas queria. Ora, Edmundo, em que mundo vives? vivendo o rascunho! sendo moldura jamais será a obra de fato! tudo o que fizer, será para enfeitá-la. Grandessíssimo tolo. A sustentaria em paredes de galerias frias para que olhares a aprovassem. E sem explicação ou aviso prévio, ela escapou pelo canto dos olhos. Me contou, também, de como transformava a nostalgia do que eram em um mundo próprio, palpável, o qual sempre visitava. Ora, Edmundo, o que pensava? tropeçou nos próprios pés, se afogou na própria saliva. Esse pássaro negro que tanto amas se empoleirou com os pés em chamas e te marcou; um estigma perfeito. Admirava tanto a liberdade aterradora deste ser fantástico que atrofiou as próprias asas em um ato sádico. Então, a história nos traz ao agora. Eu, Edmundo e seu olhar desacreditado. Degustando sua melancolia em pequenas doses, inalando a incompreensão em enormes tragos, Edmundo e seu mundo apocalíptico tentavam se comunicar. Berrava em desespero a alma do rapaz, silenciada apenas pelo copo (e alguma tosse). Eu posso te ajudar? O breve aceno de cabeça me indicava que sim. Então me conta, Edmundo! Como posso te ajudar? Agora, a única coisa a se fazer é tocar um tango argentino.