Alice no país da melancolia IV

Alice levantou bem cedo aquele dia, totalmente desnorteada, não sabia o que fazer. O celular estava descarregado e além disso, a  sua operadora não funcionava naquela cidade. Não tinha com quem conversar, desabafar ou pedir um conselho. Tomou um banho, lavou os cabelos, colocou uma bela maquiagem. Tudo isso enquanto Jorge dormia como se nada tivesse acontecido.

Foi para o refeitório sozinha tomar o café e experimentou quase de tudo que estava sendo servido ali. Alice era assim, se estivesse chateada ou triste com alguma coisa, ficava descontrolada e descontava na comida. Durante a refeição percebeu que os casais e as famílias a observavam, primeiro porque além de muito arrumada estava só, e segundo porque comia compulsivamente.

Quando Alice já estava quase levantando para sair, Jorge entrou pela porta principal do refeitório, um garçom bem estiloso e simpático foi até ela e entregou um aparelho celular que havia pedido emprestado. Agradecia a gentileza, quando Jorge aproximou-se e de imediato pegou o celular da mão dela, devolveu para o garçom e em tom deselegante disse que sua esposa não precisava do telefone dele e tirou o próprio celular do bolso, colocou sobre a mesa e disse que Alice poderia ligar para quem quisesse.

O garçom humildemente pediu desculpas e retirou-se. Alice estava tão envergonhada, que nem sua maquiagem conseguia disfarçar a tristeza que transparecia em seu rosto, ela pensou mil coisas, não sabia como reagir, precisava sair daquele lugar, mas não tinha como, pensou em pegar um táxi e ir para rodoviária, mas como?  Não tinha como ligar, só tinha cartão de crédito.  Talvez estivesse procurando uma desculpa para permanecer naquele relacionamento doentio.

Precisava resolver esta situação, as pessoas do salão estavam olhando. Jorge sentou à mesa e começou a comer normalmente...  De boca cheia disse a Alice: - Você é uma hipócrita, fica dando uma de vítima, quem está te olhando agora, não tem dúvida que és uma retardada e que possui problemas emocionais.

Alice ouviu tudo, não esboçou nenhuma reação, segurou para não chorar ali. Quando Jorge terminou o café, saíram juntos, ela logo atrás de Jorge. Então arrumou as coisas na mala sem trocar conversa alguma, Alice derramava lágrimas silenciosas. Entraram no carro e pegaram a estrada de volta para casa.

Passava um turbilhão pela cabeça de Alice. Aquele homem, que outrora a amou tanto e perdoou tantas vezes seus erros, não existia mais, e agora parece querer forçar um relacionamento de opressão  por vingança ...(continua)