A Sessão

O coronel Barnaby Dixon, recém-chegado de Calcutá, resolveu aderir ao divertimento da moda e convidou meia dúzia de amigos para uma sessão espírita na sua residência de campo em Oakham, nas Midlands Orientais. Ao anoitecer, numa sala iluminada apenas por dois castiçais de três velas cada, oito pessoas reuniram-se ao redor de uma mesa redonda: o coronel, sua esposa Flora, Elis Stone, um financista norte-americano, o capitão da Marinha Real Euan Hill e sua esposa Elsie, Constance Porter, herdeira de minas de carvão em Northumberland, e o juiz Zane Morgan e sua esposa Margaret.

- Como isso funciona? - Indagou Elis para o coronel.

- Vamos todos colocar as mãos sobre a mesa, e nos concentrar nos espíritos que desejamos convidar a participar de nossa pequena reunião - explicou Dixon, apoiando as mãos espalmadas sobre a superfície polida da mesa.

- Qualquer espírito? - Questionou Constance Porter.

- Talvez algum morto ilustre... - sugeriu Margaret Morgan.

- Vamos nos concentrar - reiterou Dixon. - Fechem os olhos e mentalizem quem desejam que venha à esta sessão.

A ordem foi cumprida. De olhos fechados, mãos sobre a mesa, os presentes pareciam profundamente absortos. Em dado momento, ouviu-se um estalo, como de madeira seca partindo-se. Todos, menos o anfitrião, abriram os olhos assustados; este indagou, serenamente:

- Se há algum espírito nesta sala, queira dar um sinal da sua presença. Bata uma vez para sim, duas para não.

Os presentes ouviram distintamente uma pancada, aparentemente vinda do centro da mesa. Margaret Morgan olhou fixamente para aquele ponto, como se esperasse algo emergir dali.

- Você é um morto recente ou um morto antigo, espírito? - Indagou Dixon. - Sim ou não?

Uma pancada. Elsie Hill parecia apavorada.

- Você morreu perto ou longe daqui? Sim ou não?

Duas pancadas; a temperatura da sala parecia ter caído um ou dois graus, embora as janelas e portas estivessem fechadas.

- Você era homem ou mulher? Sim ou não? - Prosseguiu Dixon.

Uma pancada.

- E você conheceu algum de nós em vida? - Perguntou o coronel.

Uma pancada. O clima de tensão era agora palpável; talvez apenas o medo de levantar-se e dar de cara com uma entidade sobrenatural, impedisse alguns dos presentes de sair em disparada do recinto.

- Quem de nós você conheceu? Um homem... ou mulher?

Uma pancada; as mulheres pareceram ficar um pouco mais aliviadas com a revelação.

- Era um nativo do Reino Unido ou um estrangeiro?

O único estrangeiro presente era Elis Stone. Ele engoliu em seco, parecendo antecipar a resposta; e ela veio: duas pancadas curtas. Todos os olhares voltaram-se em sua direção, inclusive do coronel Dixon.

- O sr. Stone foi o responsável pela sua morte? - Indagou o coronel.

Uma pancada.

O financista apoiou-se na mesa, apavorado.

- Ei! Que brincadeira é essa? Eu não matei ninguém!

- O senhor está quebrando o círculo, sr. Stone - advertiu-o severamente Dixon.

O financista não o obedeceu e ergueu-se. Imediatamente, uma misteriosa rajada de vento varreu o aposento e as velas se apagaram. Na confusão que se seguiu, cadeiras vieram ao chão, e quando Flora Dixon conseguiu achar o interruptor e acender a luz, Elis Stone já não estava mais presente.

- Para onde ele foi? - Indagou Constance Porter.

A resposta não tardou: ouviram o ruído do motor do automóvel de Stone dando a partida e afastando-se da casa. Quando todos chegaram à porta da frente, ele já ia longe, pela estrada rumo a Uppingham.

- Nunca vou entender esses norte-americanos - ponderou o coronel à frente do grupo, braços cruzados. - Decididamente, parecem não compreender o humor britânico.

- Ou talvez o sr. Stone realmente estivesse escondendo alguma coisa - comentou uma voz às suas costas.

Dixon não se virou para ver quem falara, mas não reconheceu a voz de nenhum dos seus hóspedes.

- [03-06-2019]