Alice no país da melancolia III


Alice era o tipo de mulher que aparentemente tinha tudo para ser bem sucedida, beleza, carreira, carisma, amizades influentes, um companheiro que a devotava e filhos que a estimavam e a compreendiam até mesmo em seus momentos de crises.

Depois de tanta melancolia e irracionalidade, Alice percebeu que levava uma vida sem sentido e que precisava melhorar sua vida, seu caráter, e sabia que devido suas fraquezas não era capaz sozinha, precisava de um apoio espiritual e então recorreu a uma ajuda superior e agarrou essa oportunidade, participando fervorosamente de uma denominação religiosa, e visivelmente demonstrou um caráter restaurado.

Passou a agir diferente, além de seu trabalho como enfermeira padrão no maior hospital da cidade, começou a trabalhar como voluntária nos bairros pobres da cidade, ajudando em questões de saúde e falando do amor de Jesus para essas pessoas. Estava transformada... E então dispôs a manter o casamento, pois recebeu uma renovação espiritual e as coisas pareciam tomar novos caminhos...

Até mesmo as pessoas mais próximas de sua família ficaram encabuladas com as mudanças na rotina do casal. Tudo aparentava ir bem. Então Jorge Luiz, convidou Alice e insistiu para os dois fazerem uma viagem de lua de mel em comemoração ao aniversário de casamento, ela aceitou e os dois foram para uma cidade turística muito bonita e hospedaram em um hotel bastante aconchegante.

Tiveram momentos inesquecíveis juntos, passearam muito, divertiram em trilhas, cachoeiras, museus, banho de piscinas, cinema, jantares românticos, jogos, brincadeiras; tudo vivido de forma intensa por ambos, que na ocasião renovaram seus votos de casamentos e juraram fidelidade e amor até a morte.

Talvez esta viagem fosse oportunidade ideal dos dois selarem a união matrimonial para sempre mesmo, já que ambos estavam bem estabelecidos no mercado de trabalho, pois dinheiro não era problema para família que no passado tiveram tantas necessidades.

Só que as consequências das atitudes de Alice no passado ainda eram presentes na mente de Jorge Luiz e este nutria um ciúme possessivo que o cegou; na última noite quando já despediam daquele lugar paradisíaco, foram jantar em um restaurante suntuoso, e durante a refeição, Alice apresentou um mal estar e foi conduzida por uma garçonete até o banheiro do restaurante, enquanto Jorge Luiz conversava com um pessoal próximo à mesa.

Ocorre que, passado alguns minutos, Alice melhorou e ao sair do banheiro viu um colega da faculdade (que estava acompanhado de outro rapaz mais jovem), que foi cumprimentá-la então o abraçou por alguns segundos e o beijou carinhosamente no rosto e o mesmo retribuiu; momento este, que os olhos de Jorge a flagrou, e foi rapidamente em sua direção, xingando de mentirosa, (pois achou que estava dissimulando o enjôo) e de vagabunda, envergonhando–a perante todos, principalmente deste colega de Alice que ela gostava tanto.

Alice nada falou, saiu chorando daquele lugar, soluçava como uma criança que perdeu a mãe, Jorge tentou acalmá-la, mas ela só chorava. Ambos saíram do restaurante; Alice andando como se estivesse embriagada, corpo trêmulo, o choro não passava, sentia náuseas, dores na alma...

Voltaram para o hotel Alice colocou uma almofada para dividir a cama, não conseguiu dormir, sentiu que sua cabeça iria explodir, tomou vários analgésicos, só na madrugada conseguiu dormir um pouquinho e então sonhou que era a Alice do país das maravilhas...
(Continua)