Aliados improváveis
Maio de 1945. Uma unidade de reconhecimento do Exército dos EUA, com quatro tanques Sherman, cruzava a bucólica paisagem do campo austríaco rumo ao próximo vilarejo da região, quando um soldado da Wehrmacht saiu da margem da estrada e foi para o meio do caminho, agitando os braços erguidos. O comandante da unidade, capitão Fletcher, ordenou pelo rádio que os veículos parassem, e abriu a escotilha superior para falar com o desertor.
- Você fala inglês? - Gritou.
- Sim, um pouco - respondeu o soldado.
- Ponha as mãos na cabeça, e aproxime-se - ordenou Fletcher.
Voltou para dentro da torre e instruiu pelo rádio que os dois últimos tanques saíssem da estrada, à esquerda e à direita, para verificar se não havia inimigos emboscados no mato. Só então, desceu do veículo, acompanhado pelo assistente do motorista, para ver o que o desertor queria.
- Nossos oficiais alemães debandaram - explicou o soldado. - Não somos da SS, somos do exército regular... e a maioria de nós é austríaca, fomos obrigados a servir no exército da Alemanha.
- Eu entendo... - comentou o capitão, coçando a cabeça sob o capacete de aço. - Quantos vocês são e onde estão os outros?
- Estamos em 50, no castelo Liebwin, uns 5 km de distância daqui. Achamos melhor não abandonarmos nossa posição, mesmo com a partida dos oficiais.
- Por quê?
- Porque poderíamos ser fuzilados como desertores. Saí de lá numa bicicleta, para tentar conseguir ajuda.
- E o que querem, exatamente, que façamos?
- Que nos protejam, caso cheguem tropas SS para ocupar o castelo. Não temos armas pesadas, e a munição anda escassa.
- Mas o que há de tão importante no tal castelo para que os SS queiram ocupá-lo?
- O castelo Liebwin era onde a SS fazia experiências secretas com cães de combate... o Projeto Varulv. Devem querer recuperar os animais, ou irão eliminá-los para esconder as evidências.
Fletcher ajeitou o capacete na cabeça.
- Está bem, você pode subir no tanque para nos mostrar o caminho. Antes, porém, terei que falar com meus superiores e pedir permissão para avançar.
Fletcher voltou à torre do tanque e contactou o coronel Brightman, seu comandante. Ao ouvir falar sobre o projeto secreto da SS, ele respondeu com inequívoco entusiasmo:
- Precisamos resguardar esse castelo para ser examinado pelos nossos cientistas! Permissão para avançar concedida!
- Certo, senhor, mas devo lembrá-lo de que ainda estamos numa área sob controle do inimigo e que minha unidade possui apenas quatro tanques... quando poderemos contar com reforços, caso os SS nos ataquem com armas anticarro?
- Vou deslocar reforços para o castelo imediatamente... devem estar chegando aí amanhã de manhã - prometeu o coronel.
- Então, vamos seguir agora para o castelo Liebwin, senhor. Câmbio e desligo.
Comunicou pelo rádio aos outros três veículos a mudança de rota, e com o desertor austríaco encarapitado na torre do tanque de Fletcher, tomaram o rumo do castelo Liebwin.
[Continua em "Hóspedes involuntários"]
- [06-04-2019]