O indifrente fim de tudo.
“Você consegue sentir, o seu futuro.. despedaçado.” Foi dito por mim
“Ao que se refere? E qual pensamento o leva a essa pergunta?” Disse o Doutor.
“A resposta é demasiadamente simples. Pois eu sinto a irrefutabilidade gradativa, que aos poucos se entrelaça cada vez mais. Cada vez mais próxima do último ultimato, da sentença do quase findado, do alívio de todos os casos. Pois, nesse momento, e bem nesse breve momento de euforia, que a sublime verdade se revela sobre os olhos nossos. Revela-se que cada coisa é uma partícula, em parte lúcida, de uma gota, que sobre o rio se despede de tudo, e de todos, que conhecia.
Neste ciclo vicioso, nesta Roda Viva, que gira sem propósito, como um pião desgovernado e abaladiço, indeciso, inseguro, trêmulo, leviano, volante, frágil, frívolo, volúvel, fútil, inútil, e desnecessário. Apenas com o propósito de findar. Além do mais, qual o fim da folha, senão o de cair? Ouvimos numa serenata, que apesar de você, amanhã há de ser outro dia. Não há dúvidas, essa serenata, me diz a verdade, a pura verdade, e nada além da verdade.”
"Se isto é o que pensa, então não vê a totalidade em que estamos todos presentes, a qual nos envolve. Nem tudo há de ser como disse, mudanças podem ser feitas, o resultado final é, acima de tudo, uma variável que de depende de seus divisores." Pronunciado pelo doutor, foi, de maneira otimista e sábio, mas inegavelmente indistinguível da normalidade que se encontra na esperança.
“Torpe, todas as coisas têm um fim. Partimos desse princípio. E nele terminamos. Nunca questionamos a imutabilidade dessa irrefutável lei. Pois não há razão, muito menos dividendos. Perguntar não transmuta nem revolve a realidade. Assim como do pó, do acaso viemos. E assim como ao pó, ao acaso retornaremos..Não há razão, não há sentido. Apenas há. Oposto ao nada, há.”
"A razão atrás disto, destes pensamentos sortidos, impressionantemente lógicos, vem de algo mais abstrato que a inteligência, mas mais sólido que o instinto. O que sente, quando pensa em tudo isso ?" Não hei de dizer nada, o doutor tinha razão
“Agonia, para cada segundo que estou sóbrio. Revolta, a minha inabilidade de aceitar a futilidade trivial presente na existente realidade, garante este sentimento guardado, com zelo e esmero, nas profundezas do meu peito, e na superfície tangível da minha mente. Confusão, não consigo compreender a necessidade da manifestação contínua das coisas, e como ainda não chegaram a haver de um fim. Isso, acima de tudo, é inaceitável. Não creio, eu, que uma mente houve de estar por trás da cortina, gerando o caos generalizado, porém se houve, tento imaginar a torpe e vil mente, com a sua visualização distorcida sobre as coisas, que crê que sua criação está perfeita.”
E após esse discurso, o silêncio se alastrou por um momento, mas ainda sim se alastrou. Para que os dois compreendam, não o significado, mas sim o que causara tal. E ainda depois, Hans disse:
“Percebo que no que você fala há uma enorme melancolia, no jeito que arranja as palavras, que combina as peças do quebra cabeça afim de mostrar a imagem em sua mente. E o que precisamos fazer, acima de tudo, é entender onde essa tal melancolia se instalou, e ainda mais porque ela se instalou.”
“Mas doutor, como faremos tal? Mal sei a forma que tal melancolia está assimilada. E digo mais, não tenho certeza se é presente. Mas ainda sim digo, que o meu mal saber está me mal tratando.” Frívolo, respondi.
“Não só não precisamos resolver isso agora, mas como não devemos. Além de que não é possível visar a resolução de um problema que ainda não enxergamos.” Conformou-me o doutor.
E depois daquele dia, após pensamentos, conclusões precipitadas, associações de emaranhados lógicos providos por ideais meramente subjetivas, após a breve, mas ainda sim revigorante sessão.
Após aquele dia, fatídico e preciso. O primeiro dia de suas sessões, e o último de sua vida. Ele o qual tivemos uma breve ideia, não de quem era, muito menos de quem poderia ser, mas de seu atroz sofrimento, que arrematou seu destino, e o sufocou com uma corda e uma cadeira.
Além do mais, sem esperança, o que ha de ser de nós, senão meras peças do destino?