Encontro de Amor
A chuva caía de forma intensa, escurecendo o céu noturno, impedindo o brilho da lua e das estralas. Lentos, os respingos molhavam a janela do apartamento número 44, por onde dois olhos apaixonados observavam a cidade silenciosa sobre a tormenta. Estava tudo arrumado para o encontro romântico daquela noite. O pequeno apartamento fora preparado, como quase nunca se encontrava, rosas vermelhas espalhadas pelo chão, móveis perfumavam com o aroma de Afrodite aquele lar romântico.
O rapaz, aflito, conferia as horas em seu relógio de pulso... Faltavam 10 minutos para a meia-noite, a música romântica tocava em seu aparelho de som; faltava, agora, só a chegada do amor deste homem. Entretido com a paixão evidente, por enfim declarar seu amor àquela que, há meses, em segredo admirava, e amava a distância, mal podia conter o nervosismo, e as memórias revelavam o dia em que se apaixonara. Fora uma tarde trágica de domingo, e o atual enamorado voltava para o seu apartamento, quando então um carro chocou-se com violência ao seu, e o mundo parecia deixar de existir... Apenas metais retorcidos e sangue. Pouco se recordava dos eventos a seguir, apenas que durante o socorro dos paramédicos ele a viu, deslumbrante e pálida, já tinha escutado falar sobre essa mulher, mas nunca imaginou ser tão bela, cabelos negros e longos, olhos verdes e penetrantes e um sorriso deleitoso como nunca tinha visto até então.
Terminou um relacionamento lascivo que tinha, até aquela época, para se dedicar à nova e ardente paixão que brotava no fundo de seu peito. Passou os meses, após a recuperação do acidente, absorvendo tudo a respeito daquela a quem estava a amar, seus hábitos, seus afazeres, a persegui-la pelas ruas e tornava sua, a preferência de sua amada. Começou a frequentar os lugares por onde ela costuma passar suas horas de lazer e trabalho. Muitos o chamavam de louco; mas, na verdade, era apenas mais alguém a nutrir um amor platônico, são tantos os que conservam esse espírito romântico medieval e arcaico em plena era da revolução digital, este rapaz não seria tão diferente de outros.
Agora, de volta ao momento presente, ele se olhava diante do espelho, conferia se estava arrumado para seu encontro. Usava um terno fino e elegante, recém-comprado, os cabelos penteados, os dentes escovados e a barba feita. Sobre a mesa, ao seu lado um remédio de tarja preta, que há três dias parou de tomar; agora, o amor seria a sua cura, maior do que qualquer remédio existente no mundo. Caminhou pela sala, abriu a gaveta de uma cômoda, lá estava uma arma carregada a reluzir como uma joia estava na hora. Neste momento, as luzes se apagaram. Um blackout atingira toda a cidade. E ela havia chegado e já se cansara de esperar... Estava na hora de outro blackout . A cidade mergulhara nas sombras profundas, e no apartamento 44, de um certo edifício, uma luz..., um disparo abafado pelo som do trovão.
Ela havia dito sim! Pois, quando se flerta com a morte, não se é rejeitado.