Esperando o elevador

Passava das 11 da noite quando retornei ao hotel decadente onde iria dormir aquela noite em Los Angeles. Eu havia reservado um quarto no 16º andar, e na recepção fui informado de que apenas um dos elevadores (dos quatro disponíveis) estava funcionando. Sem problemas. Afinal de contas, eu era o único passageiro aguardando embarque, e embora houvesse uma indicação de que o carro estava no quarto andar, imaginei que não demoraria muito a descer.

Ledo engano.

Quinze minutos depois, o indicador luminoso não havia se alterado. Irritado, voltei à recepção.

- Esse seu elevador está com defeito? Parou no quarto andar e não desce - questionei o atendente.

- Um pouco antes do senhor chegar, um outro hóspede subiu nele. Talvez tenha prendido a porta para retirar as malas e se esqueceu de destravar...

Ergui as sobrancelhas.

- Os hóspedes aqui prendem as portas dos elevadores? Pensei que isso fosse proibido.

- Não estou dizendo que seja um procedimento padrão, - defendeu-se o atendente - mas é algo que pode ter acontecido.

- Se imagina que pode ter acontecido, que tal ligar para esse inconveniente e pedir-lhe gentilmente que destrave a porta para que o elevador possa descer?

- Bem... - hesitou o atendente. - Este hóspede em particular solicitou que não fosse perturbado. Exceto claro, em caso de grave emergência.

Contei mentalmente até dez.

- Me parece que prender a porta do elevador, impedindo que os demais hóspedes utilizem o único carro em operação é uma grave emergência - ponderei, o mais calmamente que pude.

- Não creio que ele veja a situação dessa forma - foi a resposta evasiva.

- E que tal se você fosse ao quarto andar, ver o que está acontecendo?

- Lamento - desculpou-se o atendente. - Estou sozinho na recepção e não posso sair daqui sem que um outro funcionário venha me render.

Respirei fundo.

- Está bem. Já entendi. Escute: eu vou subir ao quarto andar pelas escadas e destravar aquele elevador... afinal, tenho que subir até o 16º. Mas pode ter certeza de que vou fazer uma queixa por escrito ao seu gerente amanhã!

- Lamentamos o inconveniente causado - respondeu o atendente, sem parecer estar abalado com a ameaça.

E lá fui eu, bufando de raiva pelas escadas acima. Quando cheguei ao quarto piso e estava para abrir a porta de incêndio que me daria acesso ao andar, ouvi um barulho que me fez parar, mão na maçaneta. Fiquei à espreita, e o som repetiu-se. Alguns segundos depois, novamente.

Eu sabia o que era aquilo, e comecei a sentir um calafrio tomar conta do meu corpo. Imediatamente, recomecei a subir as escadarias, e só parei, ofegante, ao chegar ao 16º andar.

Quando finalmente me tranquei no meu quarto, o som da porta do elevador, abrindo e fechando no quarto andar, ainda reboava na minha mente.

- [09-07-2018]