Delito prescrito...?
E o Osvaldo da Rute pintou lá em casa com o casal de pombos, que eram o objeto de nossos assumidos desejos. E como era chapa do papai, com quem compartilhava noites e noites na terceira turma da fábrica de tecidos, não lhe fora difícl atender ao pedido.
Era um meio de tarde quando ele lá bateu à porta, ou emitiu um ô de casa para aquele natal antecipado. Com papai e mamãe ausentes em suas fainas que só alforriavam após pelo menos trinta anos de serviço, pouco pudemos ao visitante fazer sala, além de quase perdida a fala...
As explicações osvaldianas do manejo foram breves e explícitas o su(b)ficiente. O problema mais imediato era achar uma instalação provisória para as aves. E a copa-cozinha que, fechadinha, prestou-se a esse serviço. E até preciosos grãos de arroz foram gastos nisso...
Com a chegada de papai, as orientações, como aparar uma asa de cada paloma e os abrigar inicialmente num caixote de sabão, contiveram a solução mais imediata, a que se seguiu servir-lhes milho e água. E durante o dia deixá-los soltos pelo telhado.
Eram ambos de uma igualeza extraordinária, em tamanho, plumagem plúmbea e até atitudes. Foi só semanas depois, com ambos já cevados no caixote, ao ouvir o arrulhar, pudemos identificar quem era quem, antes do ato, porém...pois a discrição era sua marca forte
...e depois, a igualeza voltava a reinar.
A primeira ninhada gerou um casalzinho que ao se emplumar revelou uma beleza extraordinária na sua alvice. E ao longo do tempo, vieram outras, mas nunca como a daquela primogenitura. E virou bando aquele par original, chegando até a atrair algum forasteiro.
Mas gatos ferais valeram-se daquela mansidão para fazer seu estrago. E aquele nosso arrebatamento inicial para papai foi tanto álibi como sinal: da oportunidade, escancarada, estava ali a janela para os endereçar à panela.
E hoje, certamente prescrito o delito, delato, deixando que minha consciência engrosse, botando a culpa no Rossi.