O MORRO DOS VENTOS UIVANTES – VERSÃO DE FÃ – PARTE 2

Hindel notava dia após dia, sem querer acreditar, em como gostavam de Heatcliff. Até sua mãe já dava mostras claras que o amava. Seu pai era declarado e andava de novo feliz com a esposa, sua mãe, que o perdoara, “pelo deslize”. Se os empregados todos amavam a Heatcliff e conseguiam enxergar alguma coisa nele, até a Nelly, a governanta deles: Hind e da menina Catherine, já ria risos altos e alegres, que nunca deu com ele, Hindlel, imagine então como Catherine estava, tão radiante com o seu brinquedinho, pois Heatcliff era um brinquedinho nas mãos da menina Catherine, que hoje estava fazendo catorze anos e uma grande festa se fazia em todo o condado. Ele punha-se a imaginar porquê que Heatcliff era amado por todos ao redor, pois era o filho “achado” do patrão, em algum lugar. É lógico que era mentira, pensava Hindlel, o, talvez, cigano, Heatcliff era filho de seu pai, era portanto um bastardo, achado fora do casamento legitimo onde seu pai tivera ele Hind e Cath. Ele, Hindlel, herdeiro legitimo da fazenda Morro dos Ventos Uivantes tinha algo especial para dar a Heatcliff e estava ali mesmo, no seu bolso direito, esperando a hora certa. Com a lembrança Hindlel, passou a mão por cima do blusão, acariciando o objeto pesado em seu bolso.

Até o ar do Morro dos Ventos Uivantes ajudava naquela noite especial para Heatcliff. A festa de aniversário de Catherine já ia adiantada, tendo várias personalidades ilustres do condado, como o Marques, o Prefeito, o Padre e toda a sua paróquia, além de alguns convidados do patrão Earnshaw, que ninguém nunca tinha visto antes, mas que esse mostrava grande familiaridade. As mulheres fofocavam, pois havia uma ruiva, uma senhora, quarentona, meia cheia de quadris largos e que sorria demais para o patrão, que as más línguas já estavam criando histórias. Já eram umas dez horas de uma noite quente e bastante enluarada, mas as mãos de Heatcliff estavam suando e frio. Seu nervoso era aparente. Ele mais velho quatro anos a mais que Catherine, agora uma linda e formosa mulher, com seus cabelos cheios, encaracolados e seu sorriso tão alegre e feliz. Papai Earnshaw, como ele chamava o homem que o resgatou da rua, numa noite escura, onde ele roubou um pão para comer e preso e cercado pela população fora preso, mas o senhor Earnshaw, vendo o menino e conhecendo o seu caso pagou a fiança e mentindo ao xerife, disse que o menino sem nome era seu filho. O menino não queria dizer o seu nome e saiu esse nome: Heatcliff, era bom, como qualquer outro nome. Vai Heatcliff mesmo e ficou Heatcliff, para sempre.

Nelly aproximou-se do jovem, que estava muito nervoso, agitado, sem se conter. Sorrindo, advinhando suas pretensões ela disse:

- Patrãozinho Heatcliff, porque você está tão nervoso menino?

- Oras, você sabe o “presente” que quero dar para Catherine, você mesmo me ajudou a pensar essa data. Mas e se ela não gostar? E se os Earnshaw não gostarem e acharem eu é muito ousadia? Papai Earnshaw deu um cavalo de raça para Catherine e eu o que vou dar, se é que pode se chamar isso de dar alguma coisa. Na verdade eu não tenho dinheiro nem posses, mas o papai Earnshaw tem me dado algum dinheiro pelo trabalho que tenho feito na fazenda, junto a ele, com o capataz e os meninos. Talvez eu tivesse mais sorte se desse o Ivanhoé para ela, mas foi a mamãe Earnshaw que deu e ela me deu também alguns dobrões de ouro, pra ajudar a comprar um presente para a menina Catherine, se é que se pode chamá-la assim agora, pois virou uma moça e eu estou com raiva, pois o Gregory, filho da Dona Joana está de olho nela e eu já me encarraspei com o Greg, apesar de que crescemos juntos, mas em matéria de Catherine, não se metam a besta comigo, pois ainda vou casar com ela, eu jurei isso quando tinha feito um mês que tinha vindo pra cá, de joelhos defronte á menina Catherine e ela miudinha, ainda com seis anos sorriu na minha cara e deu um sorriso largo como ela faz e eu vou dar um soco na cara do Greg se ele olhar pra ela se só olhar nem precisa muito pois eu vou quebrara cara dele e a mamãe Earnshaw quis ajudar a comprar um presente hoje para o aniversário da Cat mas ela não via gostar e eu vou passar vergonha e vou fugir daqui e não volto mais pois enão vou agüentar se o papai deu um cavalo eu vou dar o quê uma porcaria de presente nem se pode chamar assim...

Nelly deu uma enorme risada que vários camponeses que estavam próximos a eles pararam de conversar e olharam por um segundo apenas, logo iniciando o burburinho de vozes novamente.

Heatcliff estava nervoso e agora um moço alto, forte, de ombros largos, mas um rosto lindo com cabelos cacheados enormes e liso, onde se misturava no seu peito honra, hombridade e muita determinação e simplicidade, que do seu jeito mostrava aquele meninão como alguém muito querido de todos.

- Ei, respira, calma. Dá duas respiradas boas, vai dar tudo certo. Ela vai adorar o “presente”.

Heatcliff com uma carinha de cachorro pedinte disse, querendo uma confirmação sincera da Nelly:

- Será Nelly? Será que ela vai gostar mesmo?

-Vai seu bobo, ela vai adorar. Aliás ela já está esperando por isso faz mais de ano.

- Nelly não me engana.

Catherine estava radiante. Cumprimentada por todos ia de um lugar ao outro e era só risos e alegria, mais do que sempre. Todos a amavam. Todos amam as pessoas que sinceras expõem seus corações. Até hoje ainda era lembrado que Catherine quando tinha nove anos chorou uma semana sem parar, por causa de uma pequena tartaruguinha que cabia na sua mão, que morreu. Simplesmente morreu. Quando Catherine acordou de manhã, lá estava ela, morta. Ela cutucou a tartaruguinha, deu bom dia pra ela, conversou com ela, a embalou no colo como um bebezinho, mas ela, a coitada, não respondia, não acordava, não se mexia. Quando ela percebeu que a tartaruguinha morreu, ela deu um grito tão alto que foi ouvido até na cocheira. Todos na casa correram, Heatcliff só não foi mais rápido que a Nelly. Desmanchando-se em prantos Catherine chorou desesperada durante uma semana. E pior, ficou sem comr durante uma semana, male-má dava umas beliscadinha sem alguma coisa. Mas chorava, gente do Céu, a menina chorava gritando, desesperada, dia e noite, noite e dia. Chamaram o médico do condado, o padre e nada. Nelly condoída sofria, assim como todos. Mas por incrível que pareça, o safado do Heatcliff era o único que estava gostando, pois a menina ficava mais da metade do dia chorando abraçada nele. Ele ficava com a camisa toda molhada, mas havia um sorriso nos seus lábios. A menina Catherine era sua, mais da metade do dia. Abraçadinha ali, nele. Ele fazia aquela cara de cachorrinho perdido, só dele e dizia de vez em quando: O coitadinha da menina Catherine. Um safado puro. A tartaruguinha teve um enterro digno, onde metade da fazenda foi ajudar a enterrar a tartaruguinha da menina Catherine, agora uma moça, já pensando em casar.

Haviam muitos moços na festa, mas ela só tinha olhos para um só: Heatcliff. Era patente, que ela o amava desesperadamente. Ele seria o dono de todas aquelas terras um dia, ela pensava, pois era forte, inteligente e amável com todos. Ele tinha um tino bom para negócios e ela já se imaginava gritando com os filhos dele e dela. Filhos lindos, é lógico. Pois o que não faltava nem para Catherine e nem para Heatcliff era beleza. Ela, meio magra, não muito, ele forte, atraente e os dois com uma enorme cabeleira, chamavam a atenção onde iam. Mas alguém chamou o nome dela e viu que a esperavam ali, perto do poço.

- Filha, venha aqui. Agora é a vez do Heatcliff te dar um presente. O que será que esse jovem vai dar a ela, não estou vendo nada na sua mão. – Disse ele virando-se para a esposa, também intrigada, mas feliz.

- Eu não sei, mas alguma coisa vai surgir daí, pode esperar marido. Esse menino e essa menina são muito criativos.

- Heatcliff é com você agora... – disse o senhor Earnshaw.

Catherine ficou a dois passos de Heatcliff, na sua frente, como um anjo lindo e meio loiro. Sorrindo, ela esticou a sua mão.

- Cadê meu presente?

- Calma, eu vou te dar, mas antes eu quero falar algo.

- Então fala logo seu bobo.

- Eu quero falar alto para que todos ouçam. A família Earnshaw me abraçou como filho e não posso reclamar de pais melhores. Catherine, como todos sabem, é a irmã que eu sempre sonhei. – Ela não gostou muito disso, pois ela não queria ser tratada como irmã. – Eu quero dar uma coisa para a Catherine e fazer um pedido. Esticando a mão ele deu um antigo e velhinho colar com um golfinho. O colar que ela achou numa tarde gelada onde ficaram escavando a terra do Morro, lá atrás das pedras, onde todos fizeram um piquenique.

- Mas é o colar que eu te dei naquele dia. Eu pensei eu você tinha perdido. Eu gostei muito desse presente... mas é só isso? Havia uma certa decepção na fala de Catherine. Ele cerrou as sobrancelhas, bravo, como a dizer pra ela ter calma.

- Eu quero pedir algo para o senhor Earnshaw, mas eu quero pedir algo pra ela também e estou muito nervoso para isso.

- O que você quer pedir para o meu pai? – Externou Catherine, a pergunta que todos faziam em seus corações. Alguns já adivinhando.

- Senhor Earnshaw, eu quero pedir a mão da sua filha em casamento. Eu quero me casa com Catherine. Catherine, você quer se casar comigo? Ela disse sim e alguns já começavam a comemorar, quando um estampido, um grito de Catherine e a visão estranha do jovem Heatcliff sendo jogado para trás, com sangue no peito caísse, morto. Todos olharam de onde viera o tiro e Hind estava de pé, com a arma fumegando ainda, o braço esticado. O ódio por Heatcliff escrito em seus olhos. Catherine vendo Heatcliff caído, sangrando, desmaiou em cima dele. Por um instante ficaram os dois ali, como símbolo de um amor interrompido à bala.

Continua...

Paulo Sergio Lários

pslarios
Enviado por pslarios em 20/06/2017
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