O MORRO DOS VENTOS UIVANTES – VERSÃO DE FÃ – cap 1

Emilie Bronte, uma professora inglesa, publicou O Morro dos Ventos Uivantes quando tinha vinte e nove anos de idade, um ano depois faleceu, com trinta anos, de tuberculose, em 1848. A história densa e complicada de um amor fadado a não dar certo foi mal compreendido à época, só depois alcançando o estatus da maior obra da língua inglesa. Não por acaso é um dos meus livros preferidos. A romântica Emilie Bronte nos conta sobre o amor de Catherine e de Heatcliff...

A casa dos Earnshaw era no alto de uma colina onde devido à localização próxima ao mar, sempre soprava um vento ali. A casa era um sobrado enorme com dez quartos no segundo andar. Os Earnsahw não viviam tão sossegados financeiramente quanto aparentavam, mas eles tinham alguns cavalos e vacas, fora o terreno enorme da fazenda Earnshaw, que era mais conhecida como a casa do morro dos ventos uivantes.

Era comum o senhor Earnsahw fazer viagens a negócios, mas uma noite, quando ele voltou trouxe um menino de dez anos de idade, que não falava muito. Aqulo causou uma grande briga, pois a senhora Earnshaw acreditava que o menino era filho dele e não um menino achado no meio da rua de uma cidade suja da Inglaterra. Hind, dois anos mais velho que o menino, assim como a mãe, não acreditou no que o pai disse. Catherine, uma meiga e espivitada menina de seis anos de idade, adorou a novidade de ter alguém para brincar além do chato do Hind. O senhor Earnshaw deu a idéia de se dar o nome ao menino de Heatcliff, mas todos acharam que esse já era o nome mesmo do menino.

N noite em que Heatcliff veio, no escuro, à luz de velas, Catherine não percebeu como ele era bonito, mas no outro dia ao vê-lo com seu cabelo liso e comprido, seu olhar sério e aparentando estar com raiva de tudo e de todos, com seus gestos brutos de alguém acostumado a viver a vida muito cedo na rua, porém com um rosto tão lindo, com olhos claros e penetrantes, Catherine, com seis anos de idade, apaixonou-se definitivamente pelo resto da vida por Heatcliff. A partir de então ele virara o seu companheiro de todo e qualquer momento de traquinagem que pudessem fazer. Catherine conseguiu fazer o que aparentava ser impossível: com ela Heatcliff sorria.

Hind, por outro lado só fazia crescer o ódio que tinha por Heatcliff. Depois que o abandonado cigano chegara, a sua mãe vivia brigada para sempre com seu pai, que sempre triste, pagava o preço de ter levado o menino para sua casa. Heatcliff não era apenas mais um menino na fazenda, mas o senhor Earnshaw decidira trata-lo como filho. Ele dormia dentro de casa, tendo um quarto e sendo obedecido pelos empregados. Hind tinha ciúmes de Heatcliff, por achar que ele era um meio-seu irmão, filho de alguma mulherzinha que seu pai encontratra por ai, roubando assim o amor de sua mãe. Mas Hind, percebia, não sem certa ganancia que seu pai ia ficando cada dia mais velho e um dia ele não estaria mais entre eles e Hind era o herdeiro lógico do Morro dos Ventos Uivantes, ou seria, se Heatcliff não fosse uma ameaça constante. Nada tirava da idéia de Hind que Heatcliff era filho de seu pai com alguma desconhecida.

Mamãe Earnshaw amava Heatcliff, pois notava o carinho que ele tinha por Catherine e como ele poderia ser bom, junto dela, porém ela notava o ciúmes de Hind com ele e o ódio que só crescia no seu filho. A senhora Earnshaw não queria amá-lo, mas as maneiras e a carência de Heatcliff, além de que ele tinha um gênio melhor do que seu irmão de criação: Hind, fazia com que ela o amasse, sem que ninguém percebesse isso na fazenda. Para todos, ela o odiava e não queria nem chegar perto do menino, mas ela sempre falava para a sua empregada de confiança: Nelly, para chama-lo todas as tardes e ela lhe dava guloseimas para ele, além de estar ensinando-o a ler em segredo. Ela que tinha muito tino comercial, só de observar como seu marido dirigia o Morro dos Ventos, passara a ensinar ao menino sobre negócios. Heatcliff crescia, com uma compreensão muito forte de como se funcionavam as coisas.

Heatcliff fez quinze anos quando ainda iriam demorar meses para que Catherine, cada vez mais bonita, agora com onze anos, fizesse aniversário.

- Heatcliff, qual é o presente que você via me dar no seu aniversário? – perguntou ela com a cabeça baixa, enquanto mexia com algumas conchas na beira da praia.

- Eu achava que quem faz aniversário é quem recebia os presentes e não os convidados? – Disse ele, enquanto olhava para o horizonte, quem sabe pensando numa vida que não existia mais.

- Normalmente quem faz aniversário é quem recebe o presente, mas nesse caso quem quer um presente é o convidado. – disse ajustando o seu lindo vestido azul rodado que ele tanto gostava de vê-la usando.

- Só pra saber – disse ele virando-se para ela, prestando atenção a cada gesto seu – o que é que você gostaria de ganhar e que parece que sou eu que tenho que te dar? – Ela demorou a responder, talvez com um pouco de vergonha.

- Você sabe que estão organizando uma festinha pra você. Não vai ser igual ao aniversário do Hind, onde ele até ganhou um cavalo de presente, mas a Nelly esta organizando algo. - Heatcliff sabia que quem estava mesmo organizando era a mamãe Earnshaw, ela dissera pra ele.

- Diga logo então, o que é que você quer? Eu não tenho muita coisa, eu tenho uma bota, uma tartaruga, algumas moedas...

- Você tem um livro de Ivanhoé.

- Você quer o livro eu te dou.

- Heat, quando você veio pra cá você não sabia ler, mas agora sabe, como é isso? – Ele não respondeu a sua pergunta. – Bom, mas não é isso que eu quero pedir.

- E o que é então?

- Eu quero que hoje a noite, antes de irmos dormir, na hora que você ir para o seu quarto e eu para o meu...

- Hã, diga logo. – ela enrolou. – Diga.

- Eu quero que você me de um beijo. – De alguma maneira o pedido da menina era o que ele também queria, faz muito tempo. Heatcliff sofria, por estar apaixonado por Catherine, mas ela ser tão próxima a ele, que ele sentia estar errado em pensar me namorar com ela. Ele só esperava ela crescer mais, para pedi-la em casamento.

- Mas todo dia eu te dou um beijo, no rosto, antes de você dormir...

- Eu não quero um beijo no rosto.

- E você quer onde....

- Eu quero que você me de um beijo na boca.

- Mas nós não podemos fazer isso, não somos casados e só casados podem beijar na boca.

- Se você quiser continuar sendo meu amigo, você vai ter que fazer isso hoje, ou então eu não serei mais sua amiga e nunca mais vou falar com você. – Disse ela, uma jovem meminina de onze anos, realmente brava. Heatcliff sabia que era impossível para a tagarela da Catherine ficar sem falar com ele. Era ela quem o acordava todos os dias, entrando escondida no seu quarto e se enfiando debaixo de suas cobertas, onde ficavam mais algum tempo, quentinhos, dormindo abraçados, enquanto ouviam o vento sempre gelado balançando as janelas de vidro. Durante o dia inteiro, todos os dias, mesmo quando ele estava fazendo alguma tarefa da fazenda, Catherine dava um jeito de ficar próxima a ele.

- Quem deveria receber um presente no meu aniversário era eu - disse ele baixinho, sem muita convicção do que falava, dizendo aquilo só pra não ficar sem falar nada. Intimidado, pelo olhar tão lindo da menina de cabelos louros e encaracolados, que quando ficava brava entortava ligeiramente a boca.

- Então hoje eu vou te dar um presente Heatcliff, um beijo na boca, antes de dormir.

Continua...

Paulo Sergio Lários

pslarios
Enviado por pslarios em 16/06/2017
Código do texto: T6028625
Classificação de conteúdo: seguro