Transmutação

Nota: a história que se segue não é totalmente uma ficção. Não para quem a experienciou...

Cheguei à hora marcada. Tudo muito quieto. Como assim? Tínhamos marcado. Porta e janelas trancadas. Bati. Ninguém veio me atender. Bati novamente. A porta se abriu. Entrei. Estava na cozinha. Tudo era silêncio. Um arrepio percorreu meu corpo.

Corredor. A luz diminuía a cada passo. Ao fundo do corredor, um quarto. A escuridão era, então, quase total. Estranho porque aquele ser, que se aproximava de mim, veio dela e era perfeitamente visível. Vestido e véu negros cobrindo tudo. Somente as mãos à mostra. Brancas, pequenas e magras.

O terror tomou conta de mim e me virei para correr. Impossível. Aquelas mãos alcançaram meu ombro e começaram a me puxar para dentro daquele lugar que mais parecia a entrada para uma outra dimensão.Meus ombros eram forçados a se curvar e a dor era imensa.

Involuntariamente, lá ia eu. Terror e angústia misturavam-se em mim. Não havia saída. Ou havia?

Foi então que olhei para frente, antes que eu fosse tragada por aquele breu, levada por aquele espectro. A luz que vinha da cozinha era ainda visível. Sorri. Dei o primeiro passo à frente. Endireitei meus ombros e caminhei.

Ela foi me soltando aos poucos e sumindo naquele ambiente perturbador. E apenas prossegui.

À minha frente, Lúcia pedindo para eu entrar. Eu ali, parada, do lado de fora da casa, ainda voltando daquela realidade assustadora e diante da minha amiga. Entrei. Ela me olhou intrigada. Não disse nada. Minha amiga me conhecia muito bem. Conhecia as minhas esquisitices.

Eu podia senti-la, mas ela não me era mais uma ameça: sabia que eu era mais forte, pois tinha optado pela luz, invés da escuridão.