O Último Balé
Os passos da pequena bailarina rodavam pelo lustroso assoalho de madeira. A felicidade estava estampada em sua face, ainda pueril, concretizava seu sonho, sua ambição. Seu pequeno corpo de aparência infantil rodopiava, saltava, bailava.
Os aplausos da platéia eram a energia para a dança. A casa estava cheia, ilustres homens de bom gosto.
O maestro conduzia a orquestra em suas melodias, os violinos ritmicamente combinados com a dança. A flauta transversal, o oboé, a tuba... E os olhos em lágrimas da pequena bailarina... As gotas salgadas da alegria.
Porém, de algum canto uma fagulha, o cheiro do queimar... E o fogo... O incêndio, o desespero que toma conta do teatro... O fogo que queima os corpos apavorados... E os passos da bailarina, ainda rodavam, o sonho era pungente...
Agora, o assoalho não mais era lustrado, e a poeira o cobria com grossa camada... A casa esta vazia, a orquestra não toca mais... Apenas o pó e o abandono estão presentes.
E os pés da pequena bailarina ainda giram, ainda dançam, mesmo que para ninguém... Há noventa anos, a mesma cena, a mesma dança, perdida em um lapso do tempo... Os mesmos rodopios... Mesmas lágrimas... A pequena bailarina ainda está lá, no abandonado teatro, a dançar... E dançar... Para todo o sempre...