GATOS

"Acordava e ia dá uma olhada no quintal. Ia ver se os gatinhos filhotes já estavam com a doença.

Acho que no meu quintal tem uma espécie de verme, de germe, ou: uma Maldição.

De um gato que tínhamos no quintal, surgiram três, quatro, sete, dez. Chegou uma hora que não sabíamos mais quantos eram ao certo.

No nosso quintal, os gatos e as galinhas conviviam lado a lado.

Às vezes as galinhas chocavam seus ovos, às vezes eram as gatas que embuchavam.

Os gatos mais velhos tinham os olhos esbugalhados. Salientavam-se os olhos até, numa manhã, caírem.

A maldição se repetia sempre: os filhotes cresciam, seus olhos começavam a inchar: saltavam o máximo que podiam, e aí caíam. Ficava só o buraco ressecado e vazio no lugar.

Manhãs após manhãs, eu abria um pouco a janela da cozinha e constatava a perpetuação da maldição.

Nossas roupas eram lavadas e estendidas lá. 'E se nós pegássemos a maldição também?'

Durante as refeições, todos à mesa, eu ficava olhando os olhos de todo mundo: do meu pai, da minha mãe e dos meus irmãos. Tinha medo que eles pegassem. Impedia-os de irem ao quintal. Ficava na porta choramingando até eles voltarem.

Eu mesmo nunca pisei no quintal.

Eu era o único que não ia ao quintal.

Eu tinha medo deles, mas é porque eu não sabia o que eles tinham. Sentia-me seguro longe deles."

[Era só desconhecimento; não era maldade!]