A FONTE ato final

A FONTE ato final

A fome anteviu o destino inviolável

intragável não passava de coisas

que via mudo do outro lado

do lado escuro ainda enterrado

via as folhagens parecendo derreter

paisagens na terra ainda crua

não haviam comido da carne

ele sentia o aroma da fraqueza

aquele fundo onde brincara

de ver estrelas um dia

mudou pra outro mundo

agora não tem mais aquarelas

nem pinturas das flores sortidas

as flores são todas simbolos da morte

deixe-as perfumando o disfarce

ele nunca vi saber o que são

aqueles ossos quem saberá

virá me condenar depois

que o tempo destruir as sobras...

desdobram as forças da fúria

convida a última vertigem

a falar sobre o nome da agonia

ele desaba num choro faminto

onde esteve onde está

o velho morreu no fogo

dei glórias ao perfume de sua morte

seus gritos eram meus rios

de lágrimas diante de tua morte

porque ele a deixou esperando

ele não podia ter ido embora

ele não podia ter voltado

naquele instante estavas frágil

e toda violência trazida

daqueles lugares infernais

são bossais os que trazem

fantasmas corruptos estranhos

impuros eles não tinham

nosso sangue estavam nos olhos

dele com veneno pronto ao bote

ele a agarrava na loucura

de tudo que antes havia tomado

garganta liquida não falava

garganta liquida esfolava

sua garganta fria rosnava

eu ouvi suas palavras

não eram versos de amante

ele estava possesso

no excesso das fugas de ontem

veio quebrar meu "muro de rosas"

dei-lhe os espinhos pra matar

sua sede deixei-o cair sobre o tapete

pisei mais tarde nas cinzas

ainda quentes estavam salgadas...

as serpentes desaparecem

seu corpo no desespero

destroçado caído no chão de pedras

na margem das águas

que descem das correntezas

estão descendo no corpo

como lástimas do Deus dos puros

ferindo sua única chance

de subir pra rever seu filho

ele se agarra nas rochas

de unhas em frangalhos

a dor não existe na dor

partida do ente querido

a dor não permite a morte

da dor que mudou seu destino

é uma dor que deve ser sentida

a dor acorda suas lembranças

na beira do mesmo caminho

perto de uma vala

"havia um muro destruído"

no muro estava o sangue

dos feridos pelo destino

desviado de rumo na estrada

por onde andava com seu filho

ele acorda diante do maior pesadelo

diante do medo diante do mesmo

adiante na relva jazia um corpo

pequeno debruçado no colo

de uma raiz profunda

com suas mãos pequenas

pensando quem poderia ser

quem não era que deveria ser

e foi embora pelas mãos

que agora levantam aos céus

para implorar porque não eu

porque estou ainda vivo...

no escuro da noite longe

do grande tumulto

uma sombra desperta seus olhos

falando com voz hilária

ela devia estar sepulta

na cripta dos sagrados

sob a terra envolta da cruz

e dos alados que ficam orando

agora corrupta veio a mim

pedir pelo tua vida

caminhe diante da névoa e da tempestade

nada será maior que teus passos!

MÚSICA DE LEITURA: DOPESMOKER - Sleep