Conto de Fadas
Moça encantada, que se apóia nas paredes
A vida é curta e a espera é longa
As estrelas, lá longe, esvaem-se com o amanhecer
A dor se espalhava pelo corpo cor de mármore como um tufão de desespero e torpor que derruba com um único sopro, uma casa inteira. Desde quando fora submetida à tão débil condição? Ela se perguntava enquanto as mãos ganhavam mais arranhões dados pela textura firme, inabalável da parede. Um céu estrelado pelo janelão era tudo o que restara de bonito, o solstício de verão carregava o frio enquanto os primeiros romperes de aurora rasgavam o céu. Mais um dia chegava. Quanto tempo ficara acordada? Há quanto tempo não pregava os olhos sequer por um segundo?
Moça encantada, que espera no muro
Seu conto acaba de iniciar
Ele vem lá de longe, da Terra de Lugar Nenhum
E o vento sopra um som bem conhecido
Desde que deixara tudo para encontrá-lo novamente, suas energias nunca foram as mesmas, seu corpo jamais lhe correspondera como antes e mesmo sua mente se tornava mais ignorante a cada dia. Como pudera? Diga-me, menina! Como pudera deixar seu mundo, sua família, seu conhecimento e poder por um redes mortal?! E agora, fraca demais pra retornar, permanece sozinha e sem amor... Uma flauta doce trás a sua magia em contraste com o vento, que sincronizadamente brinca com seus cachos cor de ouro.
Moça encantada, seu amor há muito foi embora
“Oh querida, ouça minha alma e cuide do meu choro
Pois todo meu choro pode inundar um rio no meu coração”
As palavras rasgavam seus tímpanos com violência, nem as dores do corpo eram capazes de superar o torpor gritante de sua alma, e ela chorava. Ajoelhava aos prantos com vontade de correr de volta à sua terra, perder-se em seu mundo e jamais lembrar que um dia esteve tão próxima e ao mesmo tempo tão distante de ser plenamente feliz.
Linda moça, os cavalos estão de volta
Trazendo alegria e felicidade
Mas de repente os cavalos se foram
E era apenas o som do seu coração batendo sozinho
Desde que ele se fora, cada ruído, cada vulto fugaz que pelas paredes passeava, cada murmúrio das águas lhe trazia a esperança de volta. E ela corria, seus pés não obedeciam a sua dor e as pernas já não se importavam com os hematomas e calos. Mas as trombetas não soavam, as bandeiras não estavam hasteadas e seu grande amor, permanecia envolto em silencio e espero. –Ele não vai voltar!- Tentava convencer a si mesma em vão uma vez que seu coração recusava acreditar que aquele que um dia o roubara, tinha partido para sempre.
“Oh minha querida, agora eu não posso conter meu choro
Minhas lágrimas me afogaram
E me recuso a acreditar”
“O que resta à minha volta,
É tudo tão estranho, É tudo tão escuro
Estou completamente só aqui
Para juntar os pedaços do meu coração”
Um dueto de amor é cantado por pares distantes, corações que jamais irão se reencontrar. Ele pertencia a outro plano, uma batalha maior que aquela. Da vida, não era mais personagem, uma espada fincada em seu peito arrancara o ultimo sopro de vida que restara, mas não foi suficiente para apagar da memória a pequena dama que ao longe rogava por sua volta. Ela, em meio a angústia e orações, debatia-se na cama vazia, corria de um lado a outro, tentava, em vão esquecer e aceitar o fato de que ele não voltaria, de que o mensageiro que agora cavalgava veloz em sua direção não trazia boas notícias. Perdida, só, nada restara. Pequena dama, seu conto tem um fim Seu amado para o céu foi mandado Ele se transformou em faíscas que brilham com as estrelas..
Ao cair da noite, quando o silencio reina e as vidas descansam, ela está debruçada sobre o peitoril da janela, deixando que a brisa fresca fizesse cócegas no rostinho de alabastro. Não havia mais vida, ou vontade de continuar. A voz do homem que a pouco viera visitá-la ainda ecoava por cada cantinho perturbado de sua cabeça. “Morto durante a batalha... Um herói... Morreu em nome do Rei.” As lágrimas corriam quentes pela face e beijavam seus lábios tal como seu amado há muito tempo fazia. Entretanto, no fundo de seu coração ferido, a dama sabia que sempre que seus olhos se perdessem no céu escuro e todas as vezes que o vento viesse beijar-lhe a face, ele estaria vivo no fundo de sua alma.
... E à noite ele sempre estará lá
Para que sua dama o veja
E assim ele nunca morreu.
Baseado na música Fairy Tale- Shaman