Estamos no universo... E ele está em nós.  

Estamos no universo... E ele está em nós.

  

    Seus cabelos vermelhos e desgrenhados brincavam ao vento frio da manha. Sentada no parapeito do último andar exibia as pernas grandes e brancas que pendiam entre o limbo entre o céu e o chão duro lá embaixo. A mão direita segurava um cigarro aceso. E os olhos de tom rosado denunciavam que a pouco estiveram marejados. Os lábios vermelhos semi-abertos tinha um tom de desatino. 

Pobre mulher de cabelos de fogo. Despontara no mundo para queimar na controvérsia do amor. 

"Eu quase te amo" ele dissera a ela. As lágrimas a encheram no momento que as palavras profanas a atingiram e macularam sua sanidade.  Arrebentou os sentidos que foram costurados pelo amor e desfez o nó quase cego da felicidade. 

E lá estava ela. De camisola branca na manhã tenra de Segunda-Feira. O mundo existia lá embaixo e ela inexistia lá em cima. 

Encarou a Avenida Paulista e as vidas simultâneas que cruzavam o concreto cinzento. Refletiu. Mas nada sentiu. 

Ela estava no universo.... Mas o universo já não mais estava nela. 

Respirou fundo. Logo uma lágrima deslizou como cristal pela bochecha. Só e sofrida. Cintilou enquanto rolava pelo rosto e caiu entre a fenda marcada dos seios. Oculta. Cheia de culpa. 

A mulher dos cabelos de fogo levou o cigarro à boca e tragou a fumaça. Logo expeliu-a. A fumaça dançou cinzenta no ar. E sumiu na vastidão do mundo existente abaixo. 

Então ela sorriu. Fechou os olhos. Lançou-se ao vôo despenado até a faixa de pedestres. No meio do caminho até o chão ela finalmente entendeu o final da frase de seu grande amor... Ai já era tarde demais. Seu corpo jazia estudado no chão e seu sangue espalhado no asfalto. Agora mais do que nunca ela fazia parte do universo. 

A frase retumbou em sua mente até seu último lapso de vida. 

"Eu quase te amo. E isso é quase verdade"

Douglas Moreira
Enviado por Douglas Moreira em 18/10/2015
Código do texto: T5419291
Classificação de conteúdo: seguro