Uma voz nas sombras
O ventilador com seu movimento circular de suas pás cobertas de poeira e ranger das peças metálicas em seu interior a despertou, podem ao mesmo tempo sentir o gosto de sangue em sua boca e o cheiro de suor e o liquido rubro preso a sua pele. estava nua e jogada sob o colchão sujo e dores se espalhavam por todo seu corpo, principalmente na região da virilha, seu sexo ardia e os dedos molhados ao tocar sua genital revelava a grave situação, ela sangrava. Logo as horrendas lembranças de horas antes chagavam como assombrações cruéis, passando pelas paredes e atacando, trazendo diante de seus olhos todos os horrores, o cheiro dele estava em sua pele e boca, a voz parecia torna-lo presente ecoando no fundo de seus ouvidos dando lhe a impressão que ele lhe falava com os lábios grudados em suas orelhas. A luz fraca do comodo não lhe permitia ver muito alem de um quarto vazio, o ventilador lento a girar no teto e tudo que conseguiu ouvir foram os latidos longínquos de cães que quase pareciam alucinações de uma pegadinha mental. Havia outro cheiro no ar além do seu sangue e suor, algo putrefato exalava de algum fora daquele comodo. Tentou-se levantar mais uma vez, o corpo quase não reagia, não havia forças o bastante, mas ela sabia da urgência. Não apenas seus sexo antes virgem e seu corpo estavam destruídos, mas sim sua alma e espirito e mesmo assim, não podia permanecer ali, não queria e não deveria, pois logo ele voltaria e exterminaria o que havia restado dela, ela seria morta, não havia duvida, ela sabia quem ele era, e foi por confiar naquele homem asqueroso que profanou seu corpo de quatorze anos, que ela acabou ali, fraca, ferida, molestada e destruída de corpo e alma. Ele era um conhecido da família, que a aguardou por horas em frente a escola, ofereceu lhe carona, e tantas eram as boas referencias a respeito da índole daquele mostro que ela lhe confiou sua segurança. Porém aquele homem de sorriso fácil, escondia dentro de si um demônio faminto, com fome o bastante para apenas se saciar com o corpo fragil e ainda informação de uma garota.
Lentamente ela conseguiu se apoiar nos próprios braços tendo os cotovelos afundados no colchão observando assim seu próprio corpo, seus seios redondos tinham hematomas, havia sangue seco em todo seu ventre e coxas, enquanto algumas de suas unhas se mostravam quebradas, uma outra na carne viva, fazendo doer a ponta dos dedos. Não conseguia mexer as pernas, tremia sempre que tentava, mas as sentia, não estava totalmente privada dos movimentos da cintura para baixo, provavelmente era um sintoma da fraqueza, das seguidas de tortura e sem nenhuma alimentação. Mas ela não podia esperar que ele voltasse, tinha de sair dali, contar ao seu pai o que havia acontecido, contar a policia, ao mundo. Aquele desgraçado tinha de pagar. Mas aquele cheiro podre, aquele cheiro a incomodava e a preocupava mais do que salvar sua própria vida e em um movimento desesperado conseguiu projetar seu corpo para fora do colchão, usaria suas ultimas forças para descobrir qual era a causa daquele cheiro.
As filas em caixas de supermercado sempre lhe foram algo irritante e aquela em especial, não era diferente. Há dois dias que não se alimentava direito, beliscando algo na geladeira sempre que sentia alguma manifestação de fome, mas seus interesse não estava em mastigar os alimentos comuns, consumidos por todos, ele desejava algo vivo, que respirasse sob seus dentes e vertesse sangue a cada investida sua. Ele ansiava por carne viva e jovem, como a de uma bela e cheirosa garota na flor da adolescência, ainda descobrindo ainda descobrindo toda a malevolência de mundo condenado. Jogou os produtos sobre o balção rolante e tirou do bolso traseiro da calça a carteira em couro esperando o valor total da compra. Não era e jamais seria um ótimo cozinheiro, sequer tinha paciência para isso, comprando apenas coisas que fossem de fácil e rápido preparo. enquanto aguardava, observava discretamente o sutiã da atendente que lhe passas as compras, medindo o tamanho dos seios, a textura da pele, calculando o formado e cor dos mamilos, o cheiro que teria a pele daquela garota morena de belo rosto e lábios carnudos decorados com batom vermelho. Embora tivesse abandonado o vicio do fumo, pediu uma carteira de cigarro de filtro branco, para assim não apenas comemorar seu triunfo, mas também para observar a garota que esticava acima da caixa registrado a fim de alcançar o maço de cigarros. Ela forçou as vistas, notando assim cada curva no corpo da garota, a cintura com algumas estrias aparentes, a blusa curta do uniforme deixando sua barriga exposta, um piercing no umbigo e uma tatuagem a se esconder sob a calça, um discreto pedaço da roupa intima a se expor soba calça, a cor azul a contratar com a pele morena. Bumbum grande, quadril largo, coxas grossas, ele sorriu. Talvez a fizesse sua algum dia. Sorriu enquanto pagava o valor total de seus novos pertences e saiu, gravando mentalmente o nome visto no cracha da garota, voltaria outra hora e encantaria aquele bela garota de no máximo, analisou ele, com seus dezenove anos.
A noite estava calma para ele, havia se saciado em um corpo tão doce e puro nos últimos dois dias que nada, nem ninguém poderia lhe tirar aquela sensação maravilhosa e assim encostou no carro sentindo seu peso na lataria do automóvel, enquanto acendia o cigarro e a vertigem e tontura leve lhe tomava os sentidos, normal depois de tanto tempo sem a nicotina agindo em seu organismo. Permaneceu ali, rindo de si mesmo, com as compras sob o banco de passageiros, estava se sentindo poderoso, forte, saciado e formidável. O cheiro do sexo da garota ainda estava em suas mãos e ele as farejava, sentia prazer naquilo, se excitava. Não se atentou aos olhos sobrenaturais que o observava em cada movimento, que estavam sob a escuridão de um dos edifícios próximos aquele estacionamento quase vazio. Embarcou em seu automóvel fabricado em 87 e partiu pela avenida sem perceber que era perseguido, sem notar em seu retrovisor que algo saltava sobre os prédios de um lado ao outro da avenida indo ao seu encalço.
Ela estava perto, tinha certeza disso, o cheiro havia ficado mais forte, quase tornando impossível respirar. ainda assim, ela prosseguia, ela precisava prosseguir, já havia ido longe, estava no corredor, próxima a porta do que provavelmente seria outro quarto, ou algum comodo vazio, suas pernas embora fracas e lentas, sustentavam seu rastejas, sentia a sujeira do chão se impregnar cada vez mais em sua pele, estava exausta e imunda. Mas nem mesmo toda aquela sujeira do assoalho cobria o cheiro asqueroso daquele que a subjugou, ela queria mas não conseguia chorar, suas lagrimas, havia se acabo tamanho havia sido seu sofrimento anterior e ali estava ela, diante de um buraco no piso, terra remexida, o cheiro, a presença de inseto e moscas varejeiras na superfície de terra úmida iluminada pelo luar que entrava pelo vão na parede do que um dia foi uma janela. Esticou os braços ainda deitada sob o chão frio e sujou e começou a cavar aquela terra escura e fétida e logo suas mão tocaram em algo macio e frio, estranhamente frio e o cheiro se tornou ainda mais forte, não conseguia ver com clareza,então puxou o máximo de terra que pode de uma vez e ao apoiar o corpo novamente sobre os cotovelos, lá estava, o rosto de uma menina, uma criança com não mais que sete anos de idade, morta, putrefacta, olhos abertos, orbitas vazias e chorosas. Ela tentou gritar, mas a voz lhe faltou, sentiu que em sua mãos tinha terra e pedaços do rosto da criança arrancados quando puxou a terra de forma brusca. Voltou a se rastejar para longe daquilo quando ouviu a porta se bater, alguém havia chegado, estava condenada, não tinha forças para correr.
Os passos lentos se aproximavam tornando cada segundo uma eternidade, e madeira a ranger sob o peso do corpo daquele que se aproximava parecia o som de condenação do inferno. Era ele, ele tinha voltado para terminar o que avia acontecido, ela não veria mais seus pais, não encontraria seus amigos na escola ou no parque perto de dua casa, não mais assistira aos seriados americanos com homens bonitos que tanto gostava, não mais dormiria em sua cama de colchão macio, não mais beijaria seus animais de estimação, se quer voltaria a ver seu paquerinha da internet, era o fim. E isso lhe ficou evidente assim que o par olhos brilhantes como vaga-lumes com suas luzes verdes nas trevas surgiram pela porta do comodo, aproximando-se lento e exalando um perfume bom, mas que logo foi coberto pelo odor da criança morta na cova rasa.
Ela fechou os olhos e esperou pela dor da morte, mas ao invés disso, sentiu seu corpo fraco ser coberto por um tecido pesado porém suave que de imediato a aqueceu ao mesmo tempo que embrulhada tivera seu corpo erguido do chão e aconchegado em braços que logo lhe transmitiram segurança e então ouviu uma voz nas sombras:
-Está segura agora. Não deixarei que lhe machuquem novamente. Vou leva-la de encontro a sua família. Ele não mais voltara, nunca mais!
Ela suspirou e se entrou a exaustão acolhida naquele braços desconhecidos. Enquanto a garota embrulhada em seu sobretudo se aquietava em seu braços, ele caminhou até a cova rasa onde jazia a menina com suas pequenas mãos amarradas e tomadas de larvas brancas que desciam e subiam dos buracos na carne, fazendo o ódio fervilhar em seu amago. Virou-se e saiu do comodo levando consigo a garota desacordada, e seu faro entregava que a menina ainda sangrava e o rastro de sangue pelo corredor capitado por seu olhos e olfato lhe advertiam, cuidados imediatos se faziam necessários, saindo pela porta para o quintal a garota novamente abria os olhos, vendo apenas a silhueta do que parecia um espantalho estacado no meio do terreno. O que olhos dela não conseguiram ver, mas o homem que a carregava de encontro ao hospital mais próximo sabia que aquele que ela julgava ser um espantalho, era o homem que havia lhe causado tanta dor e destruição e que empala-lo foi uma diversão para aquele que agora garantia proteção daquela jovem. E ela sentiu o toque suave e carinhoso do homem que agora ela notava ser estranhamente palido, com longos cabelos e barba a lhe decorar o rosto, além daqueles olhos flamejantes e verdes, e sob os lábios de sorriso amistoso, presas afiadas e pontiagudas se revelavam, e pendurado em seu pescoço, próximo, um medalhão que parecia da maçonaria reluzia vermelho e vivido.
-Quem é você?
-Apenas um viajante errante de passagem! Mas pode me chamar de Claus, Claus Vettorello. Embora eu tenha de apagar sua memória e quando despertares, não se lembra de nada do que viveu e sofreu e muito menos de mim, mas sou um amigo, Claus, um vampiro!