Uma breve história a ser contada...
Errando em meio à noite, busco a elucidação de que tanto anseio obter... Caminho por um solo que há muito já não se semeia nada, assim como a vida de um ser solitário que sempre tivera uma existência erma neste mundo demasiadamente lúgubre...
Minha vida há tanto não se vê nesta conjuntura tão venturosa... Há tempos tenho percebido que sou privilegiado por ter em meio às sombras um ser que compartilhe minhas mais obscuras e ocultas tentações...
Mudei há pouco para um local remoto de tudo o que se possa imaginar, sempre fiquei ao lado de fora recostado a observar o movimento das poucas pessoas naquele local. Um dia enquanto devaneava, consumido pelos meus adágios, uma breve sensação de pesar se apoderou de mim. E neste dia eu vi, para espanto meu, aquela que era dona das mais soberba feição e da mais exímia forma, eu cheguei a imaginar que quem eu vira naquele dia não fosse uma pessoa, mas um anjo das mais belas feições femíneas...
Enquanto eu reparava naquela linda mulher eu percebi que ela também reparava em mim. Todos os dias eu ficava no mesmo local para vê-la passar, fitando-me, assim como eu a fitava. Sempre tive a vontade de parar para discorrer pelo menos algumas palavras com aquela que conseguira prender meus pensamentos somente em uma coisa... Em ter aquela magistral criatura a meu lado...
Em uma habitação que se localiza dentro de uma densa floresta onde a neve não cessa de cair sobre o solo, eu me encontro agora... Vejo que todos os frenesis que tive a noite não foram sonhos, mas, a mais pura realidade...
Em um manto negro como a mais obscura noite, ela vem em minha direção assim como o perecimento vem sem a mínima improbabilidade, minha fonte de tentação agora está ao meu lado e eu posso tocá-la, senti-la, visualizá-la, assim como sempre presumi que seria... Seus cabelos escuros, seus olhos cintilantes, que brilham juntamente com a lua cheia que ilumina o céu neste local tão ermo. Desta vez tenho um receio que não se é comum de se ter, tenho receio de que minha tentação se vá para sempre, então me pergunto se todos têm este medo, pois creio eu que as pessoas em geral temeriam que suas tentações se estabelecessem em suas vidas...
Agora, deixo quase tudo para trás e sigo meu destino junto de minha mais reconfortante companhia. Sigo agora para casa... Vigorosa e visível até para aqueles que caminham na hora mais escura da noite. No alto do calvário está um castelo, dotado de um ninho de águia no ponto mais alto de sua construção. Vários tentaram, mas, nenhum conseguiu descobrir o que há tantos anos já sei... Eles tentam descobrir o que há dentro daquele maldito castelo, muitos criaram superstições de que o próprio príncipe das trevas habita aquele local... Mas, o que realmente habita esse castelo não é uma, mas duas criaturas noturnas que vagam pela penumbra... Dizem que são seres que sorvem do sangue e que se alimentam de carne, descreve-nos como uma linda mulher que caminha sempre ao lado de uma criatura a qual até hoje nunca um que vira sua face sobreviveu para contar como ele é...
Há nas memórias dos antigos moradores das vilas que circundam esse castelo, um fato ocorrido não muito no passado.
“Contam os antigos que em um dia nublado as criaturas que habitam o castelo passaram em suas vilas. Criatura de beleza exuberante aquela mulher. Porém ao mesmo tempo em que ela causava desejo, ela passava uma sensação de alarme profundo.
“No intervalo de tempo em que ela passava à frente das casas as portas e as janelas se fechavam instantaneamente.
“Um homem que se dizia dotado de grande força física saiu de uma casa e estacou-se em frente àquela criatura, dizendo: ‘Saia maldita criatura! Tu não és bem vinda em nossa vila!!! Vai-te embora!!! ’, a linda criatura respondeu-o da seguinte forma: ‘Quem tu achas que é para se dirigir a mim desta maneira tão rude... ’, nesta hora uma voz cortou sua fala: ‘Não gaste palavras com este ser desprezível... Maldito é ele, que pertence a uma raça que não convive bem com os da própria espécie... ’.
“O homem virou-se e deparou-se com um ser alto, olhos claros quase brancos e com uma expressão fechada. Desconsiderando o que todos diziam, o homem resolveu retrucar a nova criatura que aparecera: ‘Outro maldito!!! Vai-te embora também! Vós não sois bem vindos em nossa vila!!! Vai-te ou eu lhe tiro a força!!! ’, a criatura enfureceu-se, e, num movimento rápido apertou a jugular do homem, chegou próximo ao seu ouvido e disse: ‘Todos vocês são patéticos, acham que são superiores, deveria ter ficado como seus semelhantes, dentro de casa... ’. A linda mulher saiu e foi seguida por seu eterno companheiro, que carregava agora um ser inerte que fora punido exemplarmente para mostrar para aqueles que se intrometessem em seus caminhos o que lhes aconteceriam”.