Merde de vie, ou vie de merde
O sossego era aquele canto. E quanto! Podia dali esticar o braço para alcançar um livro na soleira da janela ou, com um pouco mais de flexão das "costela", chegar até o armário, sob a o lavabo e teria à mão obra de cabo a rabo.
E era uma cousa mais que religiosa, pois da oração, ou do breviário até, pode-se um dia ou mais passar e nada da fé abalar...contudo, daquele diuturno movimento, do intestino, menino, não há como escapar. Tampouco borrar. Demais, fé e fezes, coincidem no começar e terminam no bem obrar. E sobre o vaso, nem fundo nem raso, horas e horas proveitosas e deleitosas se pode passar.
E foi nesse reme-reme que, alacremente, ou num eventual geme-geme nosso Helói foi contando tempo, contagem acumulada, profunda, em que além da leitura, tanta outra reflexão abunda.
Chegou a cogitar de se tornar escritor, valer-se da oportunidade para traçar o esboço dum romance, munindo-se também de papel e caneta. Mas não foi muito além, em meio ao desforço excretor que muitas vezes mais vai, mas não vem. E concluiu que os livros já escritos é que cumpriam bem aqueles ritos. Demais, não carecia tanta concentração, o esforço da mão.
E enquanto lia, e páginas devorava, a cabeça, essa, a beça, vagava. Começa a se dar conta e imaginar a forma da verdadeira obra que fazia e que pelo cólon, reto e ânus, saía. Composição de cada dia.
Quando salutarmente aliviado, para a descarga partia, passou a conferir se com efeito o produto à concepção - e à contração - correspondia.
Forma, diâmetro, extensão, coloração, consistência, tudo virava quesito de avaliação que, a cada verificação ia revelando o refinamento dos cálculos, do labor introspectivo que ali, defronte seus olhos se materializava. E justamente, logo o humilde cu, quem diria, é que tudo aquilo esculpia...