832-SURPRESA FINANCEIRA -

Aproveitando minha viagem a São Paulo, fui ao Banco do Brasil para receber o resgate de um lote de ações que havia comprado havia algum tempo, de um amigo em dificuldade, pelo preço de R$ 2.000,00.

A agência era grande e os departamentos estavam localizados nos diversos andares do prédio de muitos andares. Ao pedir informações na portaria do edifício, foi chamada uma menina loira, de cabelos lisos caindo sobre os pequenos ombros. A garota, que talvez nem tivesse quinze anos, elegante e de andar sinuoso, sedutora, a saia curta mostrando as coxas, me segurou pelas mãos e me levou. Tomamos um elevador e ela continuou segurando minha mão firmemente, como se com receio de que me perdesse nos meandros do edifício.

Quando chegamos ao andar a porta do elevador se abriu e a menina me arrastou pelos corredores e salas. Parecia um labirinto e pensei:

Sem a ajuda dessa funcionária eu jamais chegaria aqui e não saberia como sair.

A menina desapareceu misteriosamente ao chegamos à saleta em que o resgate deveria ser efetuado. Encontrei ali um antigo colega, que logo me apresentou aos outros dois. Ele era o Valtinho, com o qual trabalhei na agência centro de Belo Horizonte. Fui tratado com cortesia e entre risadas de todos, me convidaram a sentar. Como não havia cadeiras nem bancos, sentei-me no chão, e as risadas de todos continuavam. Entrei no clima e também comecei a rir... nem me lembro mais do que ria.

O funcionário que se afigurava como chefe dos dois outros, de cabeça branca, perguntou-me qual o número da minha conta, para crédito do valor do regate das ações.

—Não tenho conta nesta agência. E se você creditar na minha conta, este valor vai ficar parado ai, nunca mais vou ver a cor do dinheiro.

—Ora, você pode sacar a qualquer hora.

—Prefiro levar o dinheiro de verdade.

—Você está parecendo aqueles mucuranas do interior, que nem sabem sacar dinheiro no banco.

—Pois prefiro mesmo o dinheiro, afirmei, ainda entre risadas, pois o ambiente continuava hilário.

Na mesma hora, como num passe de mágica, apareceu nas mãos do Valtinho o recibo, feito à mão em papel de embrulho amarelado, do valor de R$ 7.200,00.

— Espera aí, o valor é de dois mil reais. Foi o preço que paguei pelas ações quando comprei lá no interior. Faz o recibo certo, pois caso contrário vou ter dificultades em explicar a diferença na declaração do Imposto de Renda.

— Ô, cara, me disse o Valtinho, entre risadas, este é o preço que as ações valem agora. É o que você tem direito, pois elas se valorizaram.

— Ah, bom, eu disse.

Quando peguei a caneta para assinar o recibo, acordei.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 15 de março de 2014.

Conto # 832 da Série 1.OOO HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 27/06/2015
Reeditado em 27/06/2015
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