O quarto do homem morto
Um violão na parede rabiscada com uns versos e frases poéticas de uma vida feliz e cheia de esperança que nem de longe retratava a realidade, a parede de cor esverdada cor de chumbo como a de um defunto, a porta que a muito está fechada é branca com algumas manchas de mãos sujas de tinta de tanto escrever, escrever coisas que só as mãos sabem o que é, coisas que ninguém lê e se lê despreza. O armário velho guarda recordações de um homem que achava a vida monótona pois já tinha vivido demais e não tinha interesse pela velhice e que a morte talvez seria sua unica escolha possível. Tinha fotos de familiares recortes de revistas que talvez lhe interessassem, roupas velhas, rasgadas e todas pretas como se vivesse em um luto talvez de si mesmo. O chão estava sujo e empoeirado com papéis amassados e folhas secas, como num bosque, exceto pelo cheiro que não lembrava nem um pouco o cheiro de flores do campo, pelo contrário, era fétido como um suor febril e vinho quando perde o álcool em contraste com uma brisa que trazia o aroma do chão molhado pela chuva em dias de verão.
Ao lado da escrivaninha estava a cama com os lençóis pretos meio ao chão e que mais pareciam mortalhas de um falecido, de fato em cima do colchão estava lá sem vida a poucas horas o corpo de um homem velho que parecia estar levemente sorrindo como se tivesse achado agora o caminho certo, suas mãos estavam sobre o peito, mãos sujas de tinta de tanto escrever, mãos de um homem que achava a vida monótona pois já tinha vivido demais e não tinha interesse pela velhice e que a morte talvez seria seu único desejo realizado.
Esse texto é um resgate de um dos meus primeiros rabiscos. Que fez com que eu adotasse esse estilo de escrita.