Eu estarei aqui, te esperando

Elizabeth não se conformava com as graças daquele menino. Como um recém-chegado poderia inspirar-lhe tamanha paixão e afeto? Como alguém que ela nunca havia visto poderia conhecer-lhe tão bem?

Já no primeiro dia, quando fora apresentado, sentara do seu lado. Ela, concentrada em seu livro, nem o olhou direito, embora sentisse uma presença diferente emanando do garoto.

Depois chegou um buquê de rosas vermelhas à casa dela. Profundamente envergonhada - o que diria à tutora? - não sabia o que fazer. Até porque, por infeliz coincidência, eram as flores que ela mais gostava.

A primeira coisa que fez foi correr ao quarto e mandar uma mensagem para sua melhor amiga desde o colegial, Anne. Tão logo soube do presente, Anne mandou-a vasculhar cada vão entre as flores para procurar um cartão, ou qualquer sinal de afeto escrito.

Por fim, quando estava quase desistindo da busca, eis que vê, incólume sobre a mesa, o tão ansiado cartão branco que trazia gravado no seu íntimo as seguintes palavras:

Será Essa Vez!

Simon

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A cerca de 250 km dali, em uma floresta abandonada por todos que são considerados sãos de corpo e mente, chove. E, muito embora os altos trovões impeçam de se ouvir quem está ao lado e as gotas grossas afastem até os seres mais selvagens, é possível ouvir barulhos sinistros emanando de uma cabana que, certamente, não deveria estar ali.

Sob a fraca e aleatória luz dos raios e relâmpagoa, Victoria observa a rival atentamente em sua bola de cristal. Considera-a fraca e patética, tal como sempre foi em todas as vidas passadas. Sempre a mesma boboca metida tentando lhe roubar o amado.

"Parece que alguns hábitos nunca mudam..", resmunga.

E, com toda a certeza, não será ela quem quebrará esse antigo sortilégio, quase tão antigo quanto ela. E, como se vivesse apenas para isso - sejamos francos: é um dos seus motivos de se levantar todo dia por mais de trezentos anos - nossa maga isolada começa a engendrar uma maligna vingança contra Elizabeth.

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Simon adorava vê-la dormir. Cada gesto parecia friamente calculado para entretê-lo por horas a fio. Cada suspiro que tinha ele como motivo fazia-o subir às nuvens! E cada sonho dela em que aparecia beijando Lizzy - como decidira chamá-la - levava-o a uma realidade extasiante onde só havia o mais sublime dos deleites.

Ela.

Pensava em como lhe contaria sobre Victoria. Sobre a longevidade induzida dos dois. Sobre as repetidas reencarnações dela, que ele sempre procurava com ânsia. Sobre o ódio da amiga imortal.

É quando os sonhos dela começam a mudar drasticamente. Passam a exibir uma estranha floresta chuvosa. Não compreende até perceber a vontade que Lizzy tem de sair de lá.

E um soco lhe atinge o estômago quando vê Victoria.

Em pouco mais de um instante, Lizzy está sentada na cama. Acordada. Ela o olha fixamente, embora Simon esteja tranquilo. Tem certeza que ela não pode vê-lo.

Até que ela diz:

- Simon? O que faz aí?

- É um sonho, querida. - Ele sussurra, impressionado com a percepção dela.

- Não é. - Ela fala, sonolenta - Sei quando é um sonho... E, bem, ainda não me disse o que faz aqui.

- Bem, gosto de te ver dormir. E, antes de sair, queria pedir-te que tomes cuidado com a Ruiva, Victória, pois ela está desejando te matar. - Ele engole em seco e continua - Como já fez em suas outras reencarnações.

E, antes que ela entenda tudo, ele a põe para dormir. E sai do quarto, procurando meios de deter a Bruxa Vermelha.

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É noite escura quando Elizabeth acorda. Estende os braços vagarosamente para o alto e, sem entender o porquê, acaricia o pequeno esquilo que a olha fixamente entre as folhas...

É quando nossa heroína é tomada por uma sensação estranha, de um desespero jamais sentido, quando todas as moléculas em seu corpo gritam em uníssono: "O que é que eu faço aqui?!"

Já de pé - nem se lembrava mais de estar deitada - começa a olhar em volta, procurando algum vestígio da mulher ruiva que Simon lhe falara. A mulher que, há séculos, tinha apenas uma vontade: Matá-la.

Victoria.

Eis que a deusa ruiva aparece, como se surgida do nada, encarando-a com nada além de um profundo desprezo, incapaz de ser descrito pelo poder da pena. Infelizmente, pensava Lizzy, até com essa expressão ela era mais bonita.

- Sim, fedelha! - Exclamou em alto e bom som a voz mais cristalina que Elizabeth já tinha ouvido. - Sou infinitamente mais bela. Infinitamente mais sedutora. Infinitamente mais cruel.

"E, se fosse pouco disso mais amada, não teria que me matar para conquistar Simon", retrucou Lizzy.

Geralmente não é preciso muito para tirar Victoria do sério. Mas ser insultada, ainda mais daquele jeito, e por ninguém menos que a Idiota nº. 1? Oh, não! A projeto de gente iria aprender a não se meter com quem realmente tem o Poder!

Cinco vezes a Maga Ruiva balançou o dedo. E foi exatamente esse o número de pontadas que Lizzy sentiu no rosto, como se um finíssimo e ágil chicote tivesse-lhe fustigado a cara.

Enquanto limpava o sangue do rosto, Elizabeth levou uma série de golpes que a fizeram ir ao chão. E, no estado que estava, pouco conseguiu captar do imenso falatório da Ruiva, sobre brincar com a presa.

Mas Victória logo cansou e tirou um punhal enfeitiçado da saia. Balançou-o por cima dela enquanto a ameaçava de deixar cair. E, enquanto o Pêndulo da Morte termina de bater os últimos segundos de vida da Lizzy, uma voz ecoa das sombras:

- Solte-a, Victória!

- Se assim deseja, meu amor. - Sussurrou apaixonadamente a Ruiva enquanto a faca caía, indo cravar-se no peito de Lizzy. - Vê? Agora somos apenas nós dois.

Antes que perceba, Simon está por cima dela, com o punhal na mão. Ele, com exímia perícia, introduz a faca entre as costelas, de forma que acerte apenas o coração e, ao ver que acertara, gira a arma.

Solta a Maga Vermelha ainda a tempo de vê-la envelhecer todos os anos que tinha em pouco mais de 10 segundos, até restar apenas os ossos. Então vira-se para a amada, que já está em vias de fato.

- Espere. Deixe-me tentar algo. - Disse Simon, embora soubesse que era impossível. O veneno havia matado Victoria, uma Imortal como ele! - Não posso te perder quando ela não está mais aqui.

Mas Lizzy apenas ergue um pouco a cabeça e diz: "Acalme-se, querido! Você... Esperou até a... Até aqui. Sei que p... Pode fazê-lo mais u... Mais uma vez. E tenha certeza: Eu... Sempre... Voltarei... Pra...".

E expira.

Simon encara-a chorando. Alisa seus cabelos e fecha seus olhos. Uma semana depois, lê em uma notícia que uma jovem de uma cidade vizinha estava desaparecida. Os amigos desejavam saber o que havia acontecido à Elizabeth Bathory.

Simon fecha o jornal e pensa. Inúmeras vezes ele a alcançou e, quando a tinha entre os dedos, vinha a ruiva e a arrancava. Agora isso acontecera novamente. Mas, para a próxima, não haveria ruiva. Seriam apenas eles.

Claro que demoraria um pouco para ela voltar. Mas valia a pena a espera.

Ela o completava de maneira ímpar.

E, quando se atinge setecentos, esperar não é uma possibilidade.

É a Única Certeza.