Noite dos Amantes
Meia Noite e cá estou eu, descendo ruas, cruzando trilhas. A lua brilha, prateada, refulgindo com toda a sua beleza. Sua luz atravessa a copa das árvores que, com o vento, produz um estranho efeito fantasmagórico na rua.
Oh! Quantas vezes não fiz eu esse trajeto com ela? Cada esquina, cada casa e - por que não? - cada pedra me faz lembrar da minha amada. Seu sorriso, seu rosto perfeito, seus cabelos livres e soltos..
Finalmente chego à rua da casa dela e, com uma ânsia desenfreada, vago sorrateiro até seus portões. Atravesso-os como se fossem névoa - muito embora a névoa seja eu - e adentro em sua casa.
Ah!, olor vindo dos Deuses! Mal entro na casa e já sou presenteado com uma lufada de ar que cheira ao perfume da minha adorada, da minha deusa agora adormecida.
Entro em seu quarto, sem nenhum escrúpulo ou pudor, e a vejo sobre a cama. Rapidamente sou tomado por um instinto que não é meu e, quando percebo, estou sentado à beira da cama, acariciando seu rosto.
Um sopro de vento cruza a janela e ergue as cortinas, fazendo seu cabelo louro palha ganhar um tom perolado. As sombras dançam por sobre suas bochechas, parando em cima da boca cujo mel jamais ousei provar.
E foi assim que, numa calma noite de verão, aproximei-me daquele rubro botão de rosa e, desabrochando meus lábios, pousei cálido beijo.
Em um instante ela se mexeu, assustando-me quanto à minha presença profana naquele santuário. Mas bastou um momento - momento daqueles que o olhar para o nada revela a profundidade do tudo - para que me acalmasse.
Foi quando, ao voltar-se para o lado, um simples sussurro soou da mais bela boca já moldada pela natureza. E esse sussurro, para meu mais recatado deleite, era o meu nome.
Soube, então, que ela me amava.
Mas apenas nós sabíamos disso..