Diário Das Sombras- Parte 1
Norma não queria mais sair do quarto,tinha decidido isso há exatos quinze dias depois que passou a sonhar com aquela mulher magra vestida de preto.Ela não comia direito nem queria mais fazer o que fazia de costume só queria estar na cama e só saia de lá para ir a janela olhar o por do sol. Sua mãe ficou preocupada mas não conseguio resolver nada,Norma tinha apenas doze anos e já estava com os mesmos sintomas de sua tia Melinda quando tinha sua idade.
-Ela morreu aos doze anos com depressão profunda.Disse a mãe De Norma tentando faze-la reagir de alguma forma.Mas Norma não reagia e só queria estar em seu quarto protegida do que ela não sabia,só sonhava todas as noites com a mesma mulher magra vestida de preto,não descia para as refeições e quando comia comia muito pouco alias nunca fora muito de comer.Sua mãe ficou desolada com a repentina depressão da sua filha que segundo ela era um raio de sol por traz de nuvens de chuva.Seguem os trechos do diário de Norma Desmond
17 de outubro de 1985
Acordei com muita febre hoje não quis sair da cama,estou com um gosto horrível de podre na boca como se tivesse comido alguma coisa estragada,acho que estou mais doente do que imaginei,minha mãe traz sempre a comida mas eu não sinto vontade alguma de comer,as vezes jogo metade da comida no vaso e finjo que comi acho que minha mãe sabe.
18 de outubro de 1985
Sonhei com ela novamente,foi um sonho diferente dos outros,dessa vez estávamos num ônibus indo para um lugar escuro e frio.Acho que mamãe estava tocando piano hoje pela manha, deve ter sido isso que me despertou é a primeira vez que ela toca desde que papai morreu, já fazem sete anos,ela ainda toca magistralmente os noturnos de Chopin.
20 de outubro de 1985
Hoje o Dr.Palmer veio me visitar,ele conversou comigo durante vinte minutos. me passou um monte de vitaminas ma falou para comer e tomar bastante água.Não gosto dele ela cheira a formol.
21 de outubro de 1985
Sonhei com a mulher magra de novo dessa vez ela estava com um vestido de noiva negro todo rasgado,foi a primeira vez que a vi sorrindo,seus dentes são amarelados. Eu acho que mamãe está fazendo canja eu gostava muito de canja mas agora só de sentir o cheiro me dá ânsia de vomito.Hoje faz dezessete dias que eu não saio do meu quarto, acho que perdi seis quilos.Estou escrevendo poemas de novo.
Doce é o frio da noite
que nos faz deitar sem
certeza alguma de um
amanha
Doce é o silencio da noite
que nos faz dormir
sem ter certeza de amanha
algum
Doce é o abraço da solidão
que nos desvanece sem nada
pra ser dito
22 de outubro de 1985
Acordei péssima hoje...
23 de outubro de 1985
Me acordei tarde hoje acho que por volta das dez,sonhei com ela de novo ela me falou pela primeira vez,me disse que era uma vampira.Perguntei porque era tão magra se os vampiros sempre aparecem tão bonitos nos filmes,ela me respondeu que havia perdido seu corpo numa briga com um outro vampiro e estava condenada a vagar pelos sonhos das pessoas, seus olhos ficaram tão tristes de repente como se estivesse a ponto de morrer,então ela levantou-se e foi embora.Me acordei com mamãe tocando piano na sala. Me sinto muito fraca.mamãe me disse que se eu não começasse a reagir ela me levaria pra ser internada. Fiz mais um poema.
Sonho com você todas as noites
e quanto mais eu sonho mais eu
me sinto parte de você
Viemos de lugares antigos de eras
antigas,somos parte do mesmo todo
cada parte completa a si mesma como
uma coisa só.
24 de outubro de 1985
Consegui comer um pouco hoje,ainda estou muito fraca mas me sinto bem não estou me sentindo mal só porque estou de cama, gosto de me sentir assim dessa forma, só queria que as pessoas me deixassem em paz.
Comecei a ler alguns livros que estavam na estante do meu quarto e eu nunca havia me dado conta,passo a maior parte do meu tempo agora lendo.
25 de outubro de 1985
Acho que a mamãe e o o Dr Palmer estavam discutindo sobre mim,ela quer me internar mas ele acha que não é preciso. Sonhei com ela novamente ela me disse que se chamava Berenice, eu gosto de sonhar com ela,pode parecer estranho mas eu gosto quando ela aparece, ela tem cheiro de casas antigas e sua voz é como a voz de uma mãe que canta enquanto dormimos.
28 de outubro de 1985
Passei dois dias sem escrever nada em meu diário,mamãe veio aqui em meu quarto e me disse um monte de coisas, disse pra eu reagir pra eu sair da cama e mais um monte de coisas, me falou que vai me internar e que eu vou ter apoio psiquiátrico,eu estou me sentindo muito cansada e não consigo sair mais da cama, eu sonho agora o tempo todo com ela, sempre que cochilo ela está lá em meus sonhos, as vezes sinto como se ela estivesse aqui em meu quarto.Não quero mais viver, estou cansada.
Essa foi a ultima anotação no diário de Norma,ela morreu dois dias depois em sua casa, os médico determinaram a causa da morte como parada cárdio respiratória no final da ultima página escrita só uma citação de um livro que ela estava lendo e não chegou a terminar.
E não é a mão carinhosa de uma mãe que remove tuas cortinas?
E a voz doce de uma mãe que te chama a levantar?
Levantar e esquecer, na luz brilhante do sol
os sonhos feios que te assustaram quando tudo era escuridão.
Lewis Caroll, Alice no país das maravilhas.
Fim do primeiro diário