Vinho e Sangue
Escutai todos atentos as minhas palavras porque nunca foram ditas e pelo arder do sangue em minhas veias que queima como o gosto do rum na garganta e o vinho nos lábios, elas jamais serão repetidas, ouçam a vida de um homem de boa índole e caráter invejável embora hoje bêbado e moribundo.
Esse corpo cicatrizado e sujo, enrolado em trapos já se vestiram do mais nobre tecido, minha cabeça queimada de sol já ostentou belos chapéus. A história de um homem enganado cuja alma jaz do demônio.
Eu era um lorde rico, minha fortuna era bem maior que todo ouro sonhado por todos vocês em todos os seus sonhos de luxuria, era casado com uma bela mulher que de tão linda era capaz de amolecer até o coração mais duro e despertar sentimentos até no mais bruto dos homens, mas deixei-me corromper quando conheci uma mulher misteriosa e linda que me fez perder a cabeça em noites fervorosas às escondidas regadas de vinho e suor do calor de nossos corpos, após conhecê-la nada mais me saciava. Minha esposa eu já nem olhava mais nos olhos e meus tesouros parecia um amontoado de pedras sem utilidade, a mulher me convencera a deixar minha esposa e dar seu lugar a ela, inebriado pela voz doce e seu olhar negro sem pensar fui fazer o que ela me pedira, porém minha esposa e eu discutimos porque ela se recusava a me deixar sem que existissem motivos, no meio da briga lhe dei um golpe na cabeça com a taça de metal que em minha mão estava, demorei um pouco ao vê-la caindo se debatendo e depois não se mexendo mais. Ela estava gravida há oito meses e agora estava morta, aos poucos sua cor se esbranquiçava e seu corpo enrijecia seu calor não era mais possível sentir, deitei-me ao seu lado sem saber o que eu iria fazer. Chamei um medico de minha confiança o qual me aconselhou fugir e foi o que eu fiz, mas antes fui chamar a mulher cuja minha alma se perdera após conhecê-la, porem ela agora se recusava a vir comigo provando que seu interesse sempre foi minha fortuna e somente saciar seu desejo de luxuria.
Vaguei por cidades, passei fome e dormir em meio ao relento pra pagar meus pecados sempre me encharcando com bebida e mulheres tentando apagar a culpa e o sangue inocente de minhas mãos hoje eu estou aqui sentindo o hálito fétido da morte que me acompanha onde quer que eu vá...
—Já ouvi o bastante! Disse um jovem que se levantava com os olhos escuros de ódio sacando uma arma de sua cintura e virando o ultimo gole de vinho da sua taça.
—Eu não conheço você, mas já vi esses olhos antes. Disse o velho moribundo antes de ser atingido no peito pela bala da arma que seu filho renegado carregou por todos esses anos a espera de encontrar seu pai o homem que o fazia ter ódio da própria vida, a qual logo chegou ao fim pelas suas próprias mãos.
Estava agora juntos sem vida dois corpos no chão, o sangue dos dois se misturavam ao vinho derramado.