Gritos de agonia

É fim de tarde sombria. Em meio à uma campina virgem há um homem profundamente triste. O crepúsculo mudo e colorido ornamentava o céu melancolicamente, trazendo através de sua febril mente anseios de tempos mais saudosos e vívidos. Na estrada deserta sopram ventos tristonhos, tudo clama num silêncio funéreo, e o homem já não sabe se é realidade ou sonho, sua alma vaga errante pelo profundo abismo do mistério. Mágoas e melancolias sussurram monótonas vozes de agonia, gemidos, prantos que no silêncio morrem, formam-se almas que na sua mente percorrem orando na procissão funesta da melancolia.

A noite cheia de graça vem cobrindo o mundo com sua mortalha, constelando visões melancólicas, sensações diabólicas que remexem-se em seu peito feito cólicas de uma mulher que acabara de abortar. Vozes ondulam no espaço, trêmulas, incertas, palpitantes... Espectros, pelas sombras mortas, vagam desesperadamente errantes, mudos de agonia. Tudo isso, Tudo! Tudo em simbolismo à tristeza infinda que aquele homem carregastes.

No silêncio astral da imensidade dormem as estrelas tremulantes, quanta graça nesses astros dormem vibrantes de sonambulismo, vegetando em perpétuos turbilhões de chamas. Cai-se um silêncio mais profundo que o silêncio sepulcral, a lua pálida sorri sarcasticamente para o mundo observando o ridículo da vida, e então ela encara o homem profundamente, sorrindo, como se soubesse que em sua mente vagavam pensamentos suicidas. Seu sorriso estridente torna-se cada vez mais diabólico à medida que as estrelas vão despertando de seu profundo sonambulismo. Sarcasmo, ironias, risadas bisonhas zombam-no na imensidade astral, calmos e medonhos vão penetrando nos sonhos do pobre homem, e viram em espectrais imagens seus desejos de bater à porta da morte saturnal.

O homem sente-se sufocado, desolado pelos risos que de toda abóbada celestial inflama, um coro de anjos caídos vai caminhando em procissão à mórbida música da morte que o cosmo dança. De trevas e pavores o homem se alucina, e escuta murmurar o vento em seus ouvidos, como anjos a falar baixinho: Suicídio!

Do brilho das estrelas cristalinas veio um riso irônico de dor, e da sua alma subiram neblinas que lhe ofuscaram de visões, visões de tormento infindo, sonambulada do além, do indefinido, da dor infinita. O homem caiu em pranto sem poder lutar contra aquela dor latente, que o fazia ranger os dentes e gritar em desespero e agonia. Exausto, já não aguentando tanto sofrimento, ele padeceu no esquecimento ao matar-se sob a luz da lua...

O tormento então terminara, mas as nódoas de seu sofrimento naquelas paisagens lívidas prosseguiam, toda a vida vegetal foi devastada, toda a paisagem caiu numa tristeza que a consumia, e por tempos remotos foi possível, ainda, ouvir os ecos de seus gritos de agonia..

Nishi Joichiro
Enviado por Nishi Joichiro em 18/03/2014
Reeditado em 18/03/2014
Código do texto: T4734385
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