Tantos Lugares Em Lugar Algum
Enxergo as trevas em lugar de luz...
grito o silencio no lugar da voz.
Tenho asas em lugar de mãos...
sinto uma pedra no lugar do coração.
Sinto a dor em lugar de amor...
sinto o frio congelando meu calor.
Tenho tristezas em lugar de alegrias...
em lugar de sangue,
corre medo em minhas veias.
Sinto um oco no lugar da alma...
tenho ódio no lugar da calma.
Sinto cair uma seca lágrima...
enxergo o caminho, mas não sigo a caminhada.
Sinto o fogo em lugar de vento...
sinto a felicidade, morta, pelo sofrimento.
Respiro sombras em lugar de ar...
sinto minhas asas, mais não posso voar.
Enxergo o sol em lugar da lua...
sinto a noite, sempre, sempre escura.
Sinto a morte, á minha vida matar...
em lugar de tudo, não mais senia nada.
Abandonado na mais escura floresta,
Densa escura, a nevar a todo instante
Ouvia ruídos e gritos que muito me estremeciam
Deitado, sobre o chão frio, a neve banhada em sague
Ainda, sem forças, só podia permanecer neste meu estado...
De decadência...
Em meio à tanta treva, percebo uma luz
Ela parecia aproximar, mas, meus olhos tão cansados
Não mais podiam enxergar com perfeição
Apenas fiquei parado...percebi que mais ainda estava próximo
Não sei se este ser ouviu minha voz
Mas,no âmago meu que tão fraco estava, pude ouvir minha própria voz...
Percebi este se ajoelhar e passar as mãos sobre meus cabelos...
Em sua mão havia um lenço, que limpou o sangue de meus lábios
Pude, por alguns segundos, perceber quem era...
Mas, ainda tão débil, minha mente não pode reconhecer...
Senti que, deste ser, vinham soluços de tristeza
Ao ver-me tão abatido, apiedou-se de mim
E veio ao meu encontro para de mim cuidar
Meus olhos, ainda tão lânguidos, puderam soltar uma pequena lágrima
Lamentação por estar prensente ante a ela, neste desprezível estado...
Meus baforejos derretiam a neve próxima de minha boca
Quando ela sentou-se ao meu lado, colocou-me sobre suas pernas
Chorou e lamentou meu estado...
Olhei para o lado e vi um Grande ser negro
Era o Anjo da Morte que, empunhado de uma foice
Iria ceifar minha vida enfim...
Então, ela tomou-me nos braços e bradou:
"Apiedai, apiedai-se de mim...
De mim e deste que comigo está!
Não percebes quão fraco está e quão novo ainda se encontra?
Seja menos cruel desta vez e deixai-nos vivos por alguns instantes ao menos...
Se fores levá-lo, leve-me consigo!
Pois,não ficarei mais aqui sem ele!"
Ouvi aquelas palavras com felicidades e pesar...
Aquela que longe de mim estava agora está próximo
E quando finalmente estou em seus braços, minha sentença foi cobrada
A dívida de ter vivido será paga...
Minha morte não mais será evitada
E temo, por ter que deixá-la sem companhia, sem vida...
Com o pouco de energia que ainda me resta,
Me arrasto até o Anjo da Morte...
Tomo o cálice que está em suas mãos
E não foice que empunha, cortei meu pulso...
Enchi o cálice e devolvi-o..
Disse: Sastifazei por um longo momento com meu sangue...
Eu estou curvado à vosso ser e implorando..
"Deixai-me vivo para que com ela eu possa viver e dela ter amor
Para que dela provenhas frutos e em vosso seio nasça uma flor
Pois, pela manhã, estas chagas que me tomam não mais existiram
E quando o dia morrer, tomarás para si o que em mim
Sempre pulsou, mas nunca em vão..."
Notei que o Anjo da Morte chorou...
Sua lágrimas se faziam negras e manchavam o chão...
Não achei que um ser como este poderia,
Sentir dor e penúria em um morto coração...
Ele veio até minha direção e sussurrou:
"Terá sua vida, e pouparei também a ela...
Não mais sofrerá assim como a ela
De mim terás proteção...
Serão cobertos com meu manto da vida...
Para que outra tristeza inconsolável nos vos tomem
Não desejando serem levados então..."
Depois destas palavras de piedade,
Sumiu num emaranhado de árvores...
Não mais sentia sua presença...
Voltei para os braços daquela que de mim cuidava
E percebi que em seu belo rosto
Havia a imagem de uma bela flor...