Banho de banheira
Luzes apagadas. À minha esquerda um cinzeiro onde pousava meu cigarro. Minhas mãos apoiavam minha cabeça e cobriam meus olhos. Depressão, tristeza, desgosto, melancolia, desesperança. Inclinei para trás e traguei o tabaco fortemente. A fumaça entrava pela minha boca, eu a sentia passar queimando pela garganta até chegar aos pulmões.
Levantei da escrivaninha e fui até o toalete. Não acendi a luz, mas incendiei duas velas. Enchi a banheira com água quente. Traguei pela última vez meu cigarro e arremessei-o para dentro do vaso sanitário. Despi-me e entrei lentamente na água.
Mergulhei até deixar somente a cabeça do lado de fora. Ao invés de inspirar fundo, expirei e encharquei aos poucos minha nuca passando pelos meus cabelos até afundar meu nariz. Após um momento, abri meus olhos. Tudo estava embaçado. Perdi tato com minhas pernas e meus baços.
Ar. Preciso respirar. Elevei somente o necessário para por minhas narinas fora d’água. Inspirei e meu peito subiu. Foi como se um plástico frio estivesse me prendendo dentro da banheira, impedindo minha emersão. Senti-me embalado dentro de um saco, trancafiado, boiando nos meus sentimentos em direção à morte.
Expirei. Afundei deixando sobrar apenas meu nariz na superfície. Inspirei, porém fundo dessa vez tentando não romper a barreira, mas senti-la mais violentamente. Frio se chocando com quente.
Repeti diversas vezes o ritual até entrar em transe. Meditei sobre meus sentimentos, sobre a morte. Quando me dei conta, já haviam se passado cinco horas. A água já não estava quente, minha pele, enrugada, as velas quase extintas.