A canção de Délia
-Boa noite! Ouviu-se no abrir da porta.
Mike olha por cima dos ombros e vê apenas a claridade solvida pelo abrir da porta. - Quem está aí?
E começa a tocar a música num canto insólito que dizia: - Anoiteceu e lá fora ainda continua claro, quero um abraço, quero um colo, quero um lugar pra dormir.
- Acho que você está sonâmbula, dizia Mike.
- Mais quem é você que ouço e não vejo? perguntou novamente.
- Sou a filha da noite! Caminhei vago pelas margens do rio Áquila até chegar aqui e, quando passava a sua porta eu percebi que a porta estava entreaberta como se estivesses me esperando.
- Aceitas um vinho? Perguntou Mike.
- Nos últimos dias não tenho bebido vinho pois quando me embriago sinto em mim a agonia da morte. Preciso de vinagre!
- Vinagre? Perguntou Maike assustado.
- Como assim vinagre?
- Minha música. Ela ganha ritmo quando o vinagre corta a minha garganta. A água vermelha que jorra da minha garganta alimenta o meu canal vocal e dentro de mim se faz a mais bela cachoeira.
- Pare! Você está me assustando, disse Mike.
-Espere, dê-me um pouco de vinagre e eu canto pra você!
Andando tremulamente Mike foi até a cozinha pegou um pouco de vinagre e pôs numa taça sobre a mesinha da sala e ficou esperando alguém aparecer.
De repente Mike ficou paralizado.
A mão ensanguentada erguia a taça e os pingos de sangue já era visível sobre o lenço branco e o chão reluzente da sala. Como num grande lampejo apareceu um ser ao gole da última gota de vinagre.
Mike caiu desacordado!
Aquela mulher pegou Mike em seu colo e começou a cantar: - Noite serena, menina morena que me faz viver, te carrego em meu peito e o doce desejo de sobreviver. Tenho em meu colo um homem, cuja face eu não sei decifrar, mais me deu o vinho precioso, o mel mais gostoso que pude provar. Oh, noite! Venha traz de volta a vida deste pobre ser, que nunca me viu mais que me ajudou viver, dê a ele a oportunidade de me conhecer!
Naquele instante ela sentiu o corpo de Mike aquecer-se e então lentamente ele abriu os olhos e viu que estava no colo daquela mulher e perguntou: - Onde estou? Quem é você? - Acalme-se, dizia ela.
- Eu sou Délia e eu cantei pra você!