Abandonados
Um jovem entristecido com uma profunda dor de angustia estava sentado no chão imundo de seu castelo fúnebre, esfolheava versos sobre spleen se identificava com as palavras e lia empolgado, mas tão transtornado que em alguns momentos fechava o livro e ameaçava levantar-se, mas logo o abria novamente e voltava a ler olhando pros lados para ver se alguém chegava, mas não chegaria ele estava solitário naquele enorme salão de seu castelo, perdera sua amada que se suicidara a poucos meses após sofrer um aborto espontâneo e adquirir uma enorme melancolia, mas estava a um passo de tê-la novamente só precisava tomar coragem para ir ao encontro dela, cometendo o mesmo pecado de sua esposa ao beber um frasco de veneno, e assim o fez.
Não havia mais nada a perder então pra que temer - pensava ele - nisso vira o frasco de veneno e sente o fim...
Instantes depois a única coisa que podia sentir era uma ardência, uma falta de ar agonizante, sua mente martelava seus pensamentos transformando-os em poeira e os renovando em confusões atormentáveis, estava em processo de putrefação, quando num súbito ápice de falta de consciência percebeu que estava acorrentado ao chão se puxou numa tentativa falha de quebrar as correntes, se debateu e gritou na imensidão do nada, estava despido, gritou de dor, desespero, pavor, um lago de fogo que ardia com enxofre se formou ao seu redor, os demônios riam a sua volta o salgando com fogo, os gritos horrorizantes eram dos outros condenados a passar aquele pesadelo na mais profunda escuridão do inferno onde agonizam toda eternidade, com a certeza que a dor nunca iria acabar nem a física nem a da mente, sem chances de fugir.
Ali o fogo era de dia e de noite assim como os barulhos, as paredes borbulhavam o chão era formado por lagos de chamas e acima só existia a escuridão e a única coisa que se ouvia eram risos, choros, gritos de excomungados que ainda tinham esperanças em obter piedade...
Contudo, finalmente o jovem criou coragem e olhou pros lados então viu sua amada acorrentada e sofrendo com a ardência do inferno e pior ainda com a incessante dor na mente assim como ele. Ao vê-la sentiu uma leve e muito rápida alegria, mas logo relembrou a situação em que ambos se encontravam, não tinha mais lagrima pra chorar, nem voz para gritar por ela.. Enquanto ela estava de cabeça baixa aguentando tudo em silencio, afinal não mais havia aquém pedir ajuda, porem uma força vinda da extrema dor o fez gritar por ela, ela então com muita dificuldade levantou seu rosto, e o viu... Passou a eternidade se debatendo sob as correntes que a mantinha presa no seu pecado e a impedia de tocar na felicidade!