ARCANJO

O arcanjo pousou sobre a Terra, após vertiginoso descenso, juntamente com seus fiéis companheiros. Levantou-se, contemplando a paisagem sombria e desolada. Estendeu suas asas, ergueu seus braços e dirigiu-se aos seus irmãos:

– Ânimo, meus amados!

Eles pareciam um pouco desanimados, mas lentamente se levantaram. Seu mestre os inspirava e podia evocar as últimas forças dentro de cada um deles.

Sua luz ainda resplandecia naquele reino doloroso e as trevas se agitaram. O esplendor do arcanjo parecia ferir a escuridão. Ele ergueu sua mão direita, apontando a direção que tomariam. Todos obedeceram ao comando silencioso.

Durante o trajeto, encontraram muitas criaturas repugnantes de aspecto humanóide. Tinham o torso estufado, semelhante ao de um cadáver em decomposição, porém seus membros eram magros e, em algumas delas, assemelhavam-se a patas de aranhas. Tinham cabeça humana, sem cabelos e com olhos muito pequenos. Às margens de um rio de águas pútridas, algumas dessas criaturas se alimentavam das imundícies que encontravam no solo lamacento e pegajoso.

O arcanjo olhou para seus companheiros e percebeu um olhar de profunda tristeza e consternação. Então, proferiu um discurso alentador:

– Não vos entristeçais nem desanimeis. Minha luz é suficientemente poderosa e tenho poder neste mundo miserável. Minha luz eu compartilho convosco para que possais enfrentar as adversidades. Percebei que tais criaturas não possuem lucidez alguma e sequer percebem sua crua realidade. Mas vós sois conscientes de vós mesmos. Lembrai-vos, portanto, que não há dor nem prazer comparável à dignidade de vosso destino. Recordai que comigo descendestes até aqui e comigo podereis ascender a um mundo de luzes, cores e matizes do qual tais criaturas jamais suspeitariam. Empunhai a espada de vossa vontade e não desvieis o foco de minha luz. Mantende também vossa própria chama acesa. Vós contemplais a escuridão, mas ela não habitará em vossos corações. Olhai o monte à vossa direita. Ide e abandonai este vale asqueroso. Lá, no alto do monte, devereis construir meu templo, meu palácio, e ali habitareis comigo. Não sejais débeis nem covardes, se não quiserdes ficar aqui e vos tornar semelhantes às criaturas que acabastes de ver.

Um de seus companheiros tomou a palavra e disse:

– Tu és verdadeiramente a suprema emanação do Altíssimo e o mais exaltado nos céus. Não caíste, mas descendeste para trazer a ordem e a evolução. Tu és semelhante ao Prometheus do mito, que doou ao homem o fogo e a inteligência.

– De fato, aqueles que me buscam encontrar-me-ão – replicou o arcanjo. – Porém, não iremos às multidões. Deixemos o homem-gado para seus pastores e para os comerciantes de almas.

Fabio Araujo
Enviado por Fabio Araujo em 05/10/2013
Código do texto: T4512951
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