A resposta
Ela surgiu em um vestido, que provavelmente foi tecido pelas mão de anjos caídos. Todo negro como a noite, com um véu meio desfiado... um coturno brilhante, assim como as estrelas que nos cercavam...
Seu rosto estava pálido, mas nem por isso sua plena beleza havia se apagado. Não não... pelo contrário... Sua beleza parecia revigorada com este semblante pálido e agoniado que o tempo lhe dera...
Seu olhar se mantinha do jeito que eu deixara da última vez que o vi: Antes de reconhecer-me, era um olhar vazio, vago... quando me reconheceu, tomou aquele brilho angelical que até os anjos harpais invejam... Sua boca, outrora pálida e sem pintura, hoje me surpreendera com uma viva cor vermelha... As curvas de sua maçã do rosto, estavam levemente coradas... O seu queixo, oh, seu queixo! Com aquele furinho central que me endoidece só de pensar....
Quando me viu, apenas esperou que eu tomasse a iniciativa da conversa. Logo, apenas disse: "Explique-se"...
Então, como se lesse minha mente, começou a falar:
"Me desculpe por te tratar tão friamente assim, sabes que corre perigo ao se aproximar. Não quero ver seu mal, fostes a única pessoa do mesmo sexo, que amei... Sabes disso, não?" E me lançou aquele olhar furtivo, como se eu fosse uma criança aprendendo o bê a bá...
"Sim, mas este perigo que diz, eu não tenho medo, se isto me levar aos teus braços...", eu disse, tentando agora acompanhar seus passos que começavam uma desabalada jornada rápida...
"Potter, não adianta querer entrar em meu mundo... somos um tanto diferentes. Eu carrego uma sombra dentro de minh'alma... E tu, oras, tu carregas uma luz angelical sublime que não merece ser manchada..." ela disse, e parando, olhou em meus olhos com um ar zombeteiro e me perguntou: "Você está tomando muitos banhos quentes?" Olhei com cara de espanto... Será que eu estava fedendo?? Comecei então uma caça ao odor, levantando os braços, franzindo as sobrancelhas... "Não seja tola, Potter, te pergunto isso, pois você está com o coração tão acelerado, suando frio... Tem que se acalmar, e banhos quentes ajudam..."
Oras, isto era verdade... Senti minha pulsação, estava altíssima... Suando frio, os nervos a flôr da pele.... Mas eu estava ao lado dela... Isto meche comigo de um jeito inimaginável... Nem mesmo minha ídola me proporciona reação semelhante.
Retomamos a caminhada, e perguntei: "Você o ama?"
Novamente ela parou bruscamente, fitou meu olhar marejado, sorriu, e me respondeu numa calma que só ela tem: "Sim, Potter... Eu o amo! E tenho que lhe agradecer, pois só descobri este amor, quando em seus braços estava perto de o perder... Por acaso tu dissestes a todos sobre nosso caso, quando ele ainda existia?"
Enxugando minhas lágrimas, respondi que não, que sempre fui fiel com ela, assim como com nosso antigo caso... Perguntei: "Ele te ameaça de algum modo?"
Retomando a caminhada, ela me respondeu: "Não, ele me trata bem, isso é o que importa... Ele cuida de mim, não me ameaça de modo algum..."
Seus passos estavam rápidos demais, eu parei abruptamente, como se algo me puxasse, e com lágrimas nos olhos, e o coração acelerado, acordei!
Foi um simples sonho... porém que me deu um ar de satisfação, pois as respostas que um dia me foram negadas, apareceram como mágica, no conforto de minha cama.
Acredito que as almas são ligadas de alguma maneira. Sendo assim, prefiro acreditar que foi ela quem me enviou as respostas, que de algum modo, ainda sabe como chegar em minha mente, entrar em minha alma... E recebi mais que respostas... Sinto como se meu coração me fosse recolocado no lugar onde pertence... Agora sinto-o batendo em mim... Aquele coração que um dia a entreguei com a esperança de que batesse como um só fundido ao dela...
Pammy Potter