Anátema dos Sonhos
Abro meus olhos na treva dos sonhos funéreos, e escuto o grasnar dos corvos moribundos, anunciando o augúrio da desgraça profunda num lamurio angustiante que estremece até as bases do universo. Vai-me crescendo a aberração dos sonhos, mergulhando minha existência num mar medonho, e me vejo à companhia de fetos rudimentares ainda na placenta, estendendo-me às mãos em choros de tormenta que melodiam a mais terrível das canções nefandas. Grito em agonia e prantos para que o tormento me liberte, e apague minha existência malograda na imaterialidade da inexistência dos que não nasceram. Mas a noite vai crescendo apavorante, e as trevas engolem todo o universo com violência. Dentro de meu peito a angustia devora cada ínfimo pedaço de meu ser, e eu luto contra essa universal tristeza, e muitas vezes a agonia é tanta, que sangue em coágulos escorre pela boca feito uma cachoeira escarlate. Antolho vejo-me a lutar contra a natureza da angustia latente, como se fosse um espírito vendo o próprio corpo material sendo possuído pela legião dos demônios. A tristeza do mundo por sobre mim caiu como uma praga, e me vi desistindo de lutar, pois criatura jamais derrotará a natureza, revelando meu presságio infindo, que o homem que é triste, para todos os séculos existe como uma praga que jamais há de cessar seu pesar...