Do Castanho ao Rubro
O coração pula no peito, pulsa voraz e fortemente por saber que esta será a última vez. Seu corpo todo treme e se arrepia. A voz calma e firme do sedutor agressor soou como melodia hipnótica, no encontro inesperado numa via então deserta.
Foi dos seus lábios ao pescoço em um segundo, ela sequer tentou resistir. Resistiu apenas à admitir a si mesma que sentiu prazer nisso.
Num momento dor. Noutro, epifania. No empalecer de sua pele e corar de seu olhos, passado se perde e futuro já não importa. As amarras do tempo são desatadas em cada gota de sangue. O frio da noite agora é uma reconfortante brisa. Seus olhos, antes castanhos, contemplam com singular clareza a grande penumbra que os envolve.
Agora é apenas ele. Ela é apenas para ele. Seu amante e cruel amo a tornou eterna, como uma obra de arte.
Ela é sua serva e musa. E sabe que não é primeira, mas deseja fortemente ser a última. Fará de tudo para ser.
Toma agora a sua mão, para juntos caminharem pelo tempo sem fim.
Seguirão sua sede insaciável, tornando o medo alheio em prazer, numa dança eterna de vida e morte.