Estátua de demoníaca beleza.

Aos poucos velhos amigos e ínfimos conhecidos abandonavam o féretro do corpo sucumbido pela falta de sorte, levando suas lágrimas e pesares, imaginando se a morte, ao contrário da vida, seria um estágio de paz para o homem que jazia velado numa sala emprestada, com roupas cedidas e mofadas, sem uma família ou felicidade pra ser dita em sua homenagem.

Apenas uma vela se manteve acesa, crepitando e lançando sombras da morte que velava o lugar e circundava não somente o caixão frio, mas também a musa de escuridão em lugar d’alma, jazigo cujo qual estava mais banhado de morte que qualquer um poderia imaginar.

A viúva estava parada, uma estátua de demoníaca beleza, de olhos vermelhos e a expressão tão tentadora quanto o pecado, cantando ao defunto suas canções obscenas, acordando a morte em seu corpo, chamando pra pseudo-vida, junto a sua, clamando pela sede de sangue que nascia aos poucos nos lábios pálidos de seu desventurado escolhido.

Ninguém a conhecia, nem podia imaginar o que uma senhora como aquela fazia no enterro de um coveiro daquele cemitério tão assustadoramente belo. Ninguém poderia cogitar que a dona de tal beleza havia o escolhido para uma vida eterna de morte e a uma caçada eterna pela vida quente em seus lábios, a nutrição de suas belezas.

Ele acordou em pleno horário da lua, quando a escuridão impera no mundo e todos aqueles que tem aversão a luz podem sair e mostrar seus belos olhos ao mundo. Mas, nem mesmo uma vida inteira lidando com a morte dos outros o fez mais preparado ou corajoso para lidar com sua própria morte... Foi apenas um segundo até que o medo passasse... Não estava vivo, não tinha mais sentimentos...Agora somente os pecados reinavam em seu peito inerte.

Levantou-se e olhou a sua criadora, que ainda cantava enquanto a alma dele se esvaia de seu corpo, as flores foram a o apoio para a consumação do pacto de morte, onde luxuria se derramara entre os dois corpos e com sangue fora selado o único amor que eles conheceriam dali em diante.

Saíram pela noite, a primeira de uma eternidade, retomando a trilha de sangue já desenhada por um só monstro, que agora, o egoísmo não deixou ficar sozinho... Havia sido criado mais um sugador de sangue, pervertido, obsceno, sem escrúpulos e perigoso no mundo...

Isabella Cunha
Enviado por Isabella Cunha em 16/11/2012
Reeditado em 16/11/2012
Código do texto: T3989372
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.