Tétrico Luto

Tão triste é ser senhor d’um castelo que já não é. Tão triste é, senhor! Olhar os túmulos de insepultas rosas mortas, brindando com o seu cheiro fúnebre a bela formosa que jaz coberta pela mortalha fria e arenosa do chão. Lastimável é ouvir a canção do silêncio ao invés de encantar-me com as doces canções que saiam dos seus lábios, deplorável é tocar a palha enquanto imagino os cachos sedosos de seus cabelos, alisar meu corpo frio imaginando o quão quente seria a sua pele e, ao olhar em meus olhos no espelho, já não ver a vida.

Uma a uma as velas se apagam. Apagam também os fulgores, os risos e as cores presentes em meu coração... O arco-íris é preto e branco, o pote de ouro, no fim, não passa de um balde de sangue que murmura pra mim a culpa de um ser errante, a culpa do amor meu.

Quem sou de tão importante? Sou senhor de um castelo! Conquistei-o com meu martelo, entre sussurros, gemidos e traições. Quem eu verdadeiramente sou? Sou um poeta singelo, sozinho, um amante funesto que não abandonou o amor, mas sim seu coração.

Um ano se passou e eu mantive meu tétrico luto por ti, minha linda, só minha rosa, tão morta quanto o jardim da solidão. Na vermelhidão dos seus lábios, vi pela primeira vez o prazer, um bobo, um apaixonado, alegrando as festas e satisfazendo você.

Quando deixei de ser um traidor? Nunca, pra minha eterna tristeza. Não te abandonei, minha dor não passou quando por minhas mãos, se esvaindo da vida te deixei.

Não sou tão bobo assim, amor meu. Dizias, “Tu? de que entendes da nobreza? És um bobo, um truão apaixonado por minha beleza. Pra marido não tens boa serventia, mas na cama admiro sua esperteza. Venha, a noite exige os sussurros de apaixonados afastar minha tristeza” Eu fui. Satisfiz minha sede por seu sulco de doces meles, calei tua linda esperteza e, na noite, incitei as palavras do inicio do fim da minha vida... Quem sou realmente? Me perguntou você, tão bela menina, e eu disse, banhei-te com a verdade azeda, enquanto homens de minha armadilha saqueavam e destruíam seus pais, sua vida.

Sem ar, foi como deixou meu peito. Sem ar foi como você morreu, minha doce donzela. Convenhamos, há maneiras piores de morrer!

Hoje estou no salão das grandes festas, as cadeiras vazias, as cortinas abertas e observo de longe, a dança dos mortos-vivos, das almas cujos corpos roubei, somente na espera da justiça enquanto os homens do rei invadem cada canto do meu sombrio castelo... E eu me levanto, no centro, danço a ultima dança embalado por gemidos intrépidos, pronto pra deixar que a justiça seja feita... Que roubem minha vida, pois meu coração entenrrei junto com seu corpo nos jardins...

Não tenho medo. Não tenho culpa. Talvez seja essa a definição de uma pessoa sem seu coração.

Isabella Cunha
Enviado por Isabella Cunha em 04/11/2012
Código do texto: T3968996
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.