Coração de Pedra

Mais uma noite havia se passado e logo amanhecia. A maquiagem era tirada e as saias desciam, fechando o porto do prazer de vários navegantes.

Monstros! O rosto mais belo era desfigurado na imaginação, todos os homens eram um único cliente padrão, aquele que comprava toda a inocência da Maria das Dores, das Desgraças, da Ilusão.

Lágrimas de angústia escorriam pelo seu rosto e do seu corpo ainda podia sentir a luxúria da criatura escorrer.... Nenhuma água limpava, nenhum prazer podia conter a vergonha que nas camas o suor e o dinheiro a impedia de ter.

A leve chuva caia tentando lavar os pecados da alma da menina dentro dela, enquanto a mulher andava, encharcando seu cabelo oleoso, soluçando a sua tristeza que cantava a triste canção de uma puta com um coração.

Tão majestosa a igreja surgiu a sua frente, o coração de todos os pecados absolvidos e de um Deus benevolente... Pobre Maria, fora buscar a luz para a paixão de sua vida...

... Sofrida, chorada e sentida no breve momento em que não estava entorpecida pelo desgosto de su'alma.

Olhou ao céu no alto e não viu o belo... Somente o grotescas gárgulas tão parecidas com ela. Pulcras imagens tristes cujos corações de pedra não sentiam e que estavam tão perto do céu,mas, condenadas a viver no inferno terrestre.

"Minhas irmãs!"...

Decidida, resolveu se juntar a elas. Foi até o alto, os sinos a tilintar pareciam caçoar de sua vida...

Tão tentador era o fim que ela nem pôde pensar no começo e, tirando tudo, nua, sem adereços, voou de encontro a salvação, as asas negras a faziam flutuar na plenitude.

Em direção ao perdão, caiu de encontro ao duro chão...

Um choque de realidade a fez perder a essência da vida, da alma, mas seu corpo, egoísta, não queria apodrecer tão cedo...

Mexeu-se, respirou e o céu parecia cada vez mais longe enquanto no sopro da vida apendeu a viver com a morte.

Isabella Cunha
Enviado por Isabella Cunha em 02/11/2012
Código do texto: T3964400
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