O sopro da morte
Qual era o sentido da vida?
Ela via da janela casas iluminadas por velas e em seu peito só restava escuridão.
Era escuro, estava frio.
Pousou os pés brancos no chão e sentiu seu corpo inteiro se arrepiar.
O sopro da morte aquecia seu coração e a chuva de sangue dentro do quarto não era menos intensa que os trovões que berravam lá fora.
O quarto fora iluminado por um raio que mostrou o reflexo alvo da lua em seu rosto amargo.
Uma lágrima ameaçava a cair, mas obriou-se a sorrir e descer pelas escadas de sua casa.
Abriu a porta.
A chuva estava intensa.
Olhou uma ultima vez para trás e viu sombras inscritas no chão. A tinta vermelha, já seca, cobria sua camisola e suas mãos.
A vela que segurava queimava seus dedos e a dor lhe sussurrava " Vamos, vamos! Ou eles virão!".
Ninguém entenderia.
O que uma casa tão pálida quanto a alma de qualquer trabalhador, tão morta quanto os jardins de inverno, poderia ter de incomum?
Um casal, uma filha e um pai agressivo e indecente!
O céu e a estrela cadente, que, pronta pra brilhar, acaba caindo em busca de um lugar onde houvesse esperança. Mas a chama se apagou.
De cabeça baixa, completou o desenho das linhas da rua com seus pés sujos de sangue, trilhou o caminho de seus medos, a chuva escondia seus segredos e lavava todo o resto de uma família infeliz que perecera em suas mãos.
Sozinha, em busca do nada, vagava pela confortável escuridão.