Encanto da Lua
A floresta era apenas um borrão de sombras que dançavam freneticamente, açoitando-o enquanto ele corria. O olhar frio da lua cheia permanecia concentrado em algum ponto próximo à nuca e, assim, com sua radiação sobrenatural, ela cavava um buraco cada vez mais fundo entre seus ombros, como se quisesse alcançar a sua alma.
Correr era uma questão de vida ou morte.
E quando os pés se atrapalharam... ele só teve que ceder e deixar a razão escoar, como o sangue através de uma ferida mortal aberta.
Um uivo de agonia ecoou dolorosamente em seus próprios ouvidos. Demorou a entender que aquilo agora era a sua voz, a única que tinha para amaldiçoar a sorte que o abraçava da mesma forma que uma doença infecciosa abraçaria uma criança indefesa.
Mais um uivo agudo e estava outra vez correndo.
Afinal, era uma questão de vida ou morte.
Era o instinto.
Era a fome.
Era o encanto da lua.