O Néctar da Vida
Podia se lembrar do dia que disse adeus a vida.
Das noites seguidas de sombras e solidão.
Podia recordar das vozes em sua mente enrustidas
Roubando a sanidade restante em seu mórbido coração.
Lua cheia de graça, a perfeição e o fervor
Banhava seu corpo com seu manto límpido
Emanando a prole o diminuto calor
Necessário à transição do morto em um não-vivo.
Quando em mil anos o sol não fora mais que uma simples lembrança, ela se levantou. A lua, mãe pai e amante deu-lhe boas vindas. Seus cálidos lábios percorrendo o alvo corpo e seus braços apertados em volta do abraço, na necessidade de vida quente em lábios que dormia.
Flores mortas circulavam no caminho que emanava tristeza. A noite não havia prantos, mas, o salgado das lágrimas estava impregnado no chão pouco fértil onde somente um carvalho negro e retorcido, como os corpos que lá residiam, tremulava suas folhas secas por ares tão mortos que só conseguia absorver a amargura e a solidão.
Andou... Andou sem rumo. Seus pés estavam descalços, suas mãos com pequenas feridas que adquiriu ao arrastar a manta de mármore que cobria sua cama de jazer, seus olhos com um teor tão perigoso que assustaria qualquer um que olhasse. Andou... Andou Pelas ruas como se conhecesse os mapas minuciosamente, mas, na verdade era guiada pelo desejo.
As batidas rítmicas controlavam sua velocidade e, com cheiro adocicado para o seu nariz, ansiava para sentir nos lábios o medo e o seu prazer de um corpo cujo coração ainda bombeava.... A claridade fazia seu pequeno corpo retroceder... O que era aquilo? Não reconhecia. Da sua vida as velas eram lembranças, o ardor, o aconchego.
O que fazia uma não-viva acordar de sua tumba, depois de tanto tempo e não reconhecer o que lhe esperava? A eternidade tinha esse problema. Seu corpo perdurava enquanto sua mente, um dia sã, perecia com sua moral, e, somente a sede pelo líquido viscoso, néctar da vida, era seu objetivo.
Enfim encontrou. Na descrição de seus movimentos passou por um humano. O odor dele era de menta e tabaco mas os lábios dela salivaram, não por esse, mas sim pelo cheiro que vinha de dentro dele. Seu pequeno corpo não era nada a imensidão do homem, mas sem precisar de força o guiou a escuridão.
“Venha, não hesite. Sou o fruto proibido, o medo
e o castigo que você tanto quer. Venha, abrace essa
linda escuridão e abra o teu coração para que nele
eu possa me afogar... Venha, a luxuria te encantou,
nos meus olhos tu olhou, agora não pode mais voltar”
Deleitou-se na luxúria humana. Compartilhou da mais intima troca, do mais íntimo desejo. Todos querem e não assumem. Todos precisam mas não se incumbem de um pouco de dor. Gorjeou mais lastimosa poesia quando o sangue pintou em sua garganta e a fez estremecer. Olhou a expressão de horror nos olhos do homem. O medo alimentava seu sorriso e pela musica dos surdos foi guiada para sua caixinha de música sepulcral de mármore.