O Cemitério Assombrado III
O lobo vivia passeando por entre as covas. Era visto à noite, madrugada a dentro. Durante o dia procuravam por ele, e não o encontravam. Suas patas deixavam marcas na areia fofa do cemitério.
- Olha aqui, ele teve por aqui nesta noite. Aqueles góticos, também, andam perambulando pelos túmulos à noite - ja os vi até fazendo sexo em cima das covas.
Dizia a mulher do vigia e cuidador do cemitério. Temo pelo meu filho com relação ao lobo.
-Ora, mulher pára com esta história de lobo.Deve ser um cachorro grande que vem pelo cheiro dos cadáveres em putrefação. Quando o dia amanhece ele vai embora, deve ter vida noturna.
- Os lobos têm vida noturna se você não sabe.
Aborrecido o coveiro nada disse, se retirou para a labuta diária por ali.
A sua esposa se recolheu e foi praparar a papa do guri. Depois iria para a cozinha fazer o almoço do dia. Era um casal simples, vindo do interior, sem dinheiro no banco, sem ter amigos importantes.
Na parte rica do cemitério túmulos ostentavam o poder econômico dos seus propietários. Ornamentados de fino bom gosto, com pedras de mármore de fino acabamento. Estátuas de anjos a proteger-lhe do inferno. Desenhos de artistas contratados a peso de ouro, e la dentro do mausoléu - uma fedetina insuportável de um cadáver que apodrecia e ja não podia gozar das delícias de que o dinheiro podia proporcionar.
Num dos túmulos, em seu inteirior estava o lobo. Deitado, repousava, aguardando a chegada da noite. Entrava e saia com facilidade, pois o portão de acesso do mausoléu tinha a corrente quebrada.
Na foto estava uma angelical menina. O caixão intacto, de fina madeira de lei. Porèm, o local tinha ares de abandono. Poeira, mofo, bolô e teias de aranha se multiplicavam.
Claricce Dellano Lispector. Era o nome registrado ali. Uma morte de muitos anos, estava no registro, logo abaixo da foto.
Fim da tarde, o coveiro capinou, limpou lápides. Retirou o lixo das folhas qeu se acumulavam pelo chão de terra. A grama foi aparada. Plantas molhadas.
Contavam uma história de uma linda menina que foi para um colégio interno numa parte desconhecida da Europa, Delovacchia, era o nome do pequeno país. Estava ali enterrada. os pais a abandonaram, mesmo depois de sua morte prematura. Não a visitavam no dia de finados. A menina tinha um lobo de estimação, diziam. Todos a excluiam do seu círculo de amizade. Diziam que tinha parte com o Demônio. Era comum vê-la perambulando pela floresta, retornando ao alvorecer, com os cabelos em desalinho e rugindo feito uma fera. Algusn diziam tratar-se de uma louca.
Depois de sua morte sua alma iria para o Inferno e uma maldição se iniciaria, comentavam. Ela era calada, introspectiva. Tirava notas altas.
A menina quando morreu teve o corpo transladado para o Brasil. Os pais mantiveram o seu enterro em segredo. Contavam pela cidade que um lobo era constantemente visto perambulando pelas ruas sinistras do cemitério Paraíso das Flores, um sinal de que a maldição se iniciara. Não sabiam da causa de sua morte, diziam que foi de desgosto, ou que tinha uma doença rara, desconhecida. Todos a chamavam na escola de A Menina LOBO.