O Teste Final
Um grande mestre reuniu seu grupo de discípulos, no que seria a última lição de sabedoria, para identificar, entre eles, aquele que teria atingido o grau máximo de discernimento e reflexão, e que pudesse ser considerado igualmente mestre.
Propôs o seguinte desafio:
Todos sairiam do mosteiro carregando uma peneira nas mãos, com a finalidade de descobrir a forma de enchê-la, sem que a água se esvaísse pelos furos, mantidos desobstruídos.
Aquele que primeiro retornasse com a resposta para o enigma tocaria o sino da entrada do mosteiro, para que todos soubessem do ocorrido. Perante estes, teria como tarefa demonstrar e provar a sua teoria, e esmerar-se no correto dizer, pois uma vez dada, a resposta não poderia ser modificada.
Simião foi o primeiro a embrenhar-se na mata ao redor. Parou em um descampado e começou imaginar a forma de vencer aquele desafio. Ser considerado mestre sempre fora seu sonho maior, e não poderia perder aquela oportunidade única entre todos.
Caminhou um pouco além e parou à beira de um rio. O Destino parecia conspirar a seu favor. Encontrara ali a resposta desejada, e apressou-se na volta ao mosteiro, tocando o sino, como havia sido instruído.
Novamente reunidos no grande salão; Simião foi chamado à frente, para que desse a solução:
_ "A forma de encher uma peneira sem que a água seja perdida é mantê-la sempre imersa no rio".
_ "Bravo!" Aplaudiram.
“Muito bem Simião; agora traga-nos o rio para provar e demonstrar, segundo as instruções, que faziam parte da solução do enigma". Solicitou o Mestre.
Fêz-se um grande silêncio...
Ezequiel, um dos discípulos, se dirigiu ao mestre e falou:
_ “Como os demais, não fui capaz de desvendar o enigma, na forma como fora concebido. Fracassei, e estou pronto para seguir aprendendo.”
Concluiu o Mestre:
_” Saber todas as respostas pode vir a tornar alguém um mestre sempre pronto para ensinar. Contudo, um sábio não se apressa em respostas e está sempre pronto para aprender.
Tivestes Ezequiel, a humildade necessária para reconhecer as próprias limitações e de certo as reconhecerá nas outras pessoas; a atitude desejada para a solução do enigma. A partir de hoje todos devem te chamar de Mestre”.
Aquele não fora um teste de inteligência. Fora um teste de humildade; o primeiro passo da sabedoria.
Alguns anos depois, o então discípulo Ezequiel seria reconhecido como grande sábio, respeitado, reverenciado e venerado por todos.
Seus escritos tornaram-se lições de vida, e neles sempre dizia:
“Um verdadeiro sábio não quer ser. Não busca elogios, ou reconhecimento. É apenas instrumento, raio de luz de uma sabedoria ainda maior”.