A cama de espinhos
Enquanto repouso numa cama de espinhos, tento respirar para que as lágrimas não percorram a minha face.
Se ao menos soubesse quem me colocou aqui.
Uma voz forte sussurra palavras sem nexo trazendo-me uma angustia tão grande que não há mais esforço para respirar. Ela torna-se continuamente ofegante e essa tortura associada aos movimentos musculares aprofunda cada vez mais os espinhos em minha carne.
Sumo e sangue. As pétalas das rosas me machucam ao misturar o seu suco ao meu tecido conjuntivo líquido.
A voz surge outra vez para que tudo se cumpra até o último espinho encontrar minhas entranhas.
Quando isso acontecer, ganharei marcas e invisíveis feridas que por algum tempo sangrarão, dessa vez, sem o sumo das rosas.
E quando tudo terminar, olharei para a cama de espinhos e ela não me tratá lembranças de dor.
Escolherei um dia de sol, sairei a caminhar por um jardim e colherei a rosa mais vermelha que encontrar. Ficarei a contemplar seus visíveis espinhos a analisar o que seria a vida sem amor e em que se transformaria o amor se não existisse a dor.