Recolhida no porão

Ela abriu os olhos. Estava deitada de costas. Muito tempo havia se passado desde que havia tomado a decisao de se recolher ali, no porão daquela casa abandonada. Estava escuro,mas ela podia enxergar muito bem. Não havia muitas coisas, apenas velhos trapos sobre toras de madeira velhas empilhadas pelos cantos. Ela respirou fundo, o ar tinha cheiro de mofo. Ouviu ruidos, eram ratos.... Olhou para o teto, que era baixo, empoeirado, cheio de teias de aranha. Resolveu se sentar. Os pensamentos estavam voltando aos poucos. O que tinha sido aquilo tudo? Mero sonho? NÃO! Não foi sonho... mas desejaria que fosse. Estava sozinha de novo. Era melhor assim. Se levantou por completo e tirou o pó de cima do seu vestido. Verificou o punhal que estava preso firmemente ao seu tornozelo direito. Sentiu o braco arder, havia um corte ali...."Malditos... queriam meu sangue....mas ...." De repente um ruído mais forte acima de sua cabeca a trouxe de volta dos seus pensamentos. Passos e risos se misturavam ao barulho de coisas sendo colocadas no chao. "Hum... pessoas... gostei da ideia. Preciso conversar, ver gente...me distrair...."

Subiu as escadas lentamente e quando chegou a porta se deparou com algumas pessoas que se assustaram ao ver a figura dela saindo das sombras. Embora parecese triste, estava bela. Seus cabelos longos pendiam ate sua cintura, e seus olhos curiosos brilhavam iluminados pela chama da lareira recém acesa. Ela deu um passo a frente ao mesmo tempo que a familia se refugiava junto a parede. Estavam em silêncio, assustados e extasiados. Lynn abriu um sorriso tímido.Uma das crianças soltou a mao da mãe e veio perto dela.

_Olá, meu nome e Anne Marie. Você é muito bonita.

Ela se curvou para ficar da altura da pequena crianca que aparentava ter uns sete anos. Era loira de olhos claros, e tinha o olhar doce.

_Voce tambem é linda, Anne Marie.- disse isso enquanto acariciava o rosto da menina com as costas da mão.

Lynn ergueu os olhos e olhou para o resto da familia. Queria tranquilizá-los, não os faria mal.

_ Boa noite.Me chamo Lynn.Sou uma viajante e estava passando alguns dias no porão dessa casa. Vocês são os donos dela?

_ Não, Não somos. Nós tambem estávamos viajando, e a vimos e resolvemos nos abrigar aqui por algum tempo, até termos comida suficiente para continuar nossa viagem. Oh! Perdoe. Me chamo Laura,esse é meu marido George, minha filha do meio Julie, meu filho Leonard e meu irmão Richard.

_ Prazer em conhecê-los. Se importam se eu ficar por mais algum tempo?

_NAO! Digo, não, de modo algum.- respondeu prontamente Leonard.

Ele era um rapaz dos seus 17...18 anos. Era belo. Seus cabelos caíam pela sua face. Eram escuros e lisos. Seus olhos verdes brilhavam como esmeraldas. Tinha uma beleza que misturava o delicado e o selvagem. Ela podia sentir que ele respirava ofegante. Estava encantado...quase hipnotizado por ela. Lynn apenas olhou para ele e deu um sorriso, onde seus caninos um pouco afiados ficaram a mostra.

A medida que as horas passavam, todos iam ficando sonolentos. Haviam tido uma longa conversa acompanhada de vinho. Estavam sentados no assoalho de madeira da velha sala de estar. As janelas estavam fechadas e a lareira acessa. Um cheiro adocicado de vinho pairava no ar. A iluminação vinha dos relampagos do lado de fora e do fogo da lareira. O ambiente era acolhedor. Todos estavam adormecendo. Lynn resolveu sair. Abriu a porta com cuidado. Ventava mas nao chovia. Ficou ali em pé, parada na varanda. O vento agitando seu cabelo. Fechou os olhos e apenas sentiu a noite. Logo percebeu uma presença. Alguém parado atras de si. Era Leonard.

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trecho de um conto escrito em 29/11/2005