Paola
Ela queria escrever palavras bonitas mas já não podia.
Queria irromper alma adentro... coração afora em melodia mas nada mais se ouvia... de seu canto misera fagulha que adormecia.
Em um a singela carta... letras tremulamente ternas pela ultima vez, ela escrevia... deixando seu doce perfume de que já não mais podia viver sem sentir nas profundezas de sua essência a beleza de um novo dia.
“Eu nunca fui capaz de viver de verdade. Jamais tive sequer uma única qualidade que fosse mais forte que a minha incapacidade de auto-despertar para a felicidade, ou ao menos, para a alegria da docilidade de um viver sem crueldade e infelicidade.
Então, para que tanta tempestade, se posso simplesmente terminar com esta tamanha calamidade que me invade a alma, se apossa do coração e mata de minha essência a tão sonhada e jamais alcançada LIBERDADE?
Não precisa orar por mim, não mereço... não se force a chorar de saudades porque não será verdade... tente apenas não me odiar porque foi melhor assim...tudo acabou enfim.
Adeus ~Paola ~”
Suspiros tristes e sentidos ecoaram pelo ar... não havia mais a beleza delicada e perfumada de uma primavera intocada... não existe mais nada... apenas a triste lembrança da solidão a queimar instante a instante cada pedacinho de sanidade e jovialidade.
Ela gravou na alma a frase mais bela que ouvira naquele dia, eternizada em um livro por um espírito nobre e livre... espírito que foi e é o que ela nunca conseguiu ser: Feliz
- “Fechar os olhos do corpo, não define o nosso destino” – escreveu André Luiz
Paola acreditava nisso, sente que não é o fim mas para ela, qualquer sofrimento seria melhor que a dor de não sentir mais coisa alguma... sequer a beleza divina de uma lua plena envolta em seus dilemas e poemas.
Estava linda, tão linda quantos as poesias divinas que outrora escrevia por horas a fio mas que nunca pode vivenciar em sua alma solitária e triste... seu vestido branco de tecido leve... um casaquinho de rendas em estilo gótico e um sapatinho fino e dourado foram as vestimentas escolhidas para seu ultimo momento... em uma das mãos uma rosa vermelha... um presente para o grande amor que sentia existir mas que nunca teve o direito vital de reencontrar... pegou um plástico resistente que cobria perfeitamente seu rosto, selou com varias voltas de uma fita grossa escolhida por conter sua cor predileta, o violeta. ... uma gota de cor viva em seu pescoço adocicado e claro como leite puro... seus cabelos negros cuidadosamente presos...deitou-se na cama... seus olhos cor de folhas de outono piscaram pela ultima vez... seus dedos enlaçaram os lençóis e seu ultimo suspiro flutuou e ecoou eternidade afora.