Os Românticos Mortos
Eu sou apenas um homem, talvez não passe ainda de um simples garoto. Desde cedo demonstrei um grande interesse e curiosidade pelo o amor. Prematuramente mergulhei nesse mundo de desilusões, mentiras, ciúmes, tristeza e ódio. Provei do cálice da amargura, senti meu coração sendo dilacerado várias vezes e experimentei da falsa esperança. Sim, esse é o amor em todo seu explendor. Talvez nem todo, já que ainda não tive a oportunidade de experimentar todo esse lado sombrio que habita nossos corações. É de conhecimento universal que o amor e a razão não andam do mesmo lado, e assim é fácil de entender o porque cometemos tantas loucuras quando estamos apaixonados. Nos tornamos de homens poderosos, amedrontadores e espertos em homens abestalhados e frágeis por causa dessa coisa tão simples. Somos aprisionados por ela, consumidos, manipulados, cegados e torturados psicologicamente. O amor é caótico pois não há uma ordem, não há como defini-lo ou controlá-lo. Você simplesmente quando menos espera, se pega no meio desse caos e é consumido por ele. Realmente é de uma beleza única essa sensação.
Os homens, em sua ascenção, aprenderam a desvendar, compreender a complexidade que o amor é. Sábios, filósofos, romancistas, todos conseguiam ver claramente e entender esse sentimento. Quando assim o fizeram, aprenderam a cuidar daqueles que amavam,
aprenderam a transmitir o amor através das artes, dos conhecimentos e até da vida. O homem aprendeu a cultivar seu amor pelas idéias e pelos seus sonhos. Desde então as pessoas se respeitavam sem que precisassem de um motivo para isso. Mas quando o homem entrou em sua decadência, tudo mudou. O amor foi feito para homens de espírito forte, e quando os fracos se viram consumidos por isso, perderam o juízo, a sanidade e a razão por completo. Suas mentes foram destruídas e eles começaram a cultivar um amor sombrio, um amor errôneo por idéias cruéis e egoístas, um amor por possessão material, pelas guerras, pelo orgulho, pela ganância. Esse amor se espalhou pela humanidade como uma praga. A maioria dos homens de hoje somente conhecem o amor falso e quando se deparam com sua essência, não estão mais aptos a compreendê-la ou mesmo tentar entendê-la. Até mesmo as mulheres, donas dessa essência, também se tornaram desprezíveis e fracas como os homens. E os poucos que ainda entendem as vezes sofrem por se verem cercados de pessoas com amores falsos e fracos.
Eu descobri que faço parte dessa antiga linhagem de românticos. Não se trata de uma linhagem interligada pelo sangue e sim pelas idéias. Não perdemos tempo com amores fúteis e ambíguos. Não nos importamos com a beleza externa, com dinheiro ou sexo. Somente queremos a coisa mais simples de todas, o amor verdadeiro, a essência da natureza humana. Passamos boa parte de nossas vidas procurando ávidamente por esse amor, esse sentimento inexplicável, a fim de encontrarmos paz para nossas almas atormentadas, vazias e escuras. Perdi meus amigos, perdi meus familiares e perdi minha vida. A única coisa que me mantêm vivo é o propósito de reencontrá-la novamente. Já provei do sangue de várias jovens, e mesmo assim, nenhuma se compara a o da minha amada. Mesmo na morte, ainda convivo com as dores e a as lembranças de quando viviamos juntos e felizes. Ah sim, eu me lembro de cada momento, dos bons até os ruins. Quando você perde alguém que ama, você percebe o quanto foi idiota por todas as brigas sem sentido que tiveram. Ela sempre foi a razão da minha vida, meu eterno amor, e eu não tive a oportunidade de dizer o quanto a amava antes dela morrer. Nunca me conformei por não ter tido essa oportunidade, talvez, essa tenha sido uma das razões para
eu ter me tornado no que me tornei.
Estou esperando por ela à mais de 118 anos e continuarei esperando o tempo que for, bem aqui, em seu antigo túmulo, segurando a rosa que eu iria lhe dar no dia de sua morte, até o dia em que ela voltar e eu possa me redimir. Mas até esse dia, eu serei apenas mais um dos românticos mortos.