Roseiral
Ela andou vagarosamente pelo imenso roseiral; parecia que pisava delicadamente em um céu de alogodão doce, tanta paz aquela visão trazia a ela. Ia pela estrada de terra, fofa e escura que lhe sujavam os pés descalços e respingavam no seu vestido longo, rendado no tom pérola; sentía-se como uma borboleta a atravessar os caminhos com a suave brisa que lhe tocava a alma como um terno beijo. Estava entregue ao silêncio de seu espírito quebrantado.
As gotas de chuva caíam, molhando seus longos cabelos escuros e o vestido, grudando-o ao seu corpo delicado de boneca. As lágrimas desciam pelas faces e misturavam-se com a água vinda dos céus, em uma tentativa inútil de limpar o mais sombrio que carregava consigo. Passou a ficar tonta com aquelas inúmeras rosas brancas, a confusão mental debilitava seu raciocínio, deixando-a perdida e enlouquecida. A cacofonia das vozes em seu interior exauriam suas forças, surrando com ódio seu corpo já enfraquecido e adoentado. Há anos estava cansada, morimbuda, pálida e eferma. Sua fuga pelo sinistro roseiral era um pedido de socorro que vinha de suas entranhas, talvez o ultimo; antes de sucumbir ao desespero da dor; e por fim, adormecer nos braços da morte.
Indagava-se com frequência para consigo; quando sua existência passou a ser tecida por fios sombrios e viver com perturbações sinistras e misteriosas? só tinha uma certeza, não suportava. Não podia mais respirar. Não podia mais existir. Sabia que dali a alguns instantes seria seu ultimo suspiro, lento e sufocante. Caminhando com dificuldade seu corpo não se sustentava, dava sinais que não podia mais contra aquele peso morto, e a mente doentia e febril, desabou sob as rosas brancas que acolheram seu frágil corpo caído, como uma dança..a dança da morte que a embalava lentamente enquanto a música tocasse. Os espinhos machucaram a fundo sua pele, cravando marcas de sangue por todo seu corpo e manchavam as rosas ao seu redor de cor carmim. O vento assoprava em sua pele, as pétalas manchadas acariciavam seu rosto, e os espinhos era um alívio da dor física sobre a sua própria dor imensurável. A respiração estava ofegante, virou o rosto para os céus e lá em cima dois corvos atravessaram o roseiral e emitiram sons, que trazia sua morte anunciada. Seus grandes olhos azuis fixaram-se em um ponto perdido do céu arroxeado de final da tarde, a alguns minutos o brilho da lua iluminaria aquele roseiral. Sentia que uma mão invisível apertava o seu peito, sufocando-a, e ela resignada. A sua ultima lágrima caiu muda e dolorosa até chegar em seus lábios com sangue, ela provou aquele gosto salgado e a sensação de pavor. O coração batia lento, cada vez mais lento, até sentir que podia flutuar e estava flutuando quando fechou seus grandes e tristes olhos azuis para repousar no descanso eterno.