Sonhos Perdidos na noite...
Doze de fevereiro de 3020.
Constelação de Orion, decimo terceiro planeta colonizado por humanoides.
A temperatura caíra rapidamente esfriando a superfície do planeta.
Afastando a sensação térmica de calor que infernizara a população durante o dia inteiro.
Em uma praça esquecida no centro da cidade, a estatua de uma amazonas se sobressaía.
Em pé, com uma espada de bronze em riste apontando para o céu, um mudo desafio aos elementos da natureza.
Sua aura guerreira impressionava aos incautos pedestres com a veracidade dos seus traços esculpidos no metal.
Ela parecia uma muda guardiã, que vigiava e protegia a todos no local.
No entanto, era apenas uma silenciosa e impotente testemunha das atrocidades que ocorriam nos recantos sombrios das ruas e vielas.
Lentamente a noite caia lançando sobre a praça e ruas adjacentes o seu manto escuro.
Envolvendo, cobrindo e acobertando a todos, fornecendo uma falsa ideia de proteção e segurança.
Era nesse momento que os seres perversos e pervertidos, usavam do seu manto para esconder os seus pecados e maldades.
Próximo dali, em um beco escuro, sujo e decadente, uma mulher maltrapilha, com os olhos esfomeados e lacrimejantes, arfava encostada na parede, procurando encontrar energia em seu magro corpo.
Respirando ofegante em busca de oxigênio.
Enfraquecida pelo frio e pela fome, que a torturava constantemente a cada instante; procurava um local aquecido para ser usado como abrigo e esconderijo.
Seus olhos vagueiam eletricamente pelo ambiente, mas nada encontra.
Sentindo o desespero e a frustação envolve-la, deixa correr livremente as lágrimas retidas há tanto tempo.
As mesmas correm livremente rosto abaixo, deixando um rastro limpo na tez encardido.
Debulhando em lágrimas e com dores pelo corpo, ela inspira profundamente procurando a saída daquele labirinto de dissabores que lhe purga a alma.
Forçando os pés a caminharem um passo a mais, quando uma sombra cobre o recinto escondendo os pontos de luzes que iluminava parcamente o beco.
A criatura que se aproximava, era disforme, seu corpo era um amontoado de restos de corpos em decomposição, costurados a ermo, exalava um odor de podre que empesteava o ar e deixava tudo e a todos ao seu redor nauseado.
Sentindo a sensação de medo e de desespero envolver ao seu ser; tomada por calafrios e tremula, ela escuta as batidas do seu próprio coração como se fosse uma batucada ao longe.
Na boca, ela sente o amargo gosto de fel, a adrenalina corre loucamente em sua corrente sanguínea, dando o impulso necessário para que lute pela sua sobrevivência.
Tentando se afastar, ela sai tropegamente, tateando e tropeçando, enquanto gemidos e lamentos saem dos seus lábios trêmulos e lágrimas escorrem pela sua face.
Escorregando, cai ao chão, se arrastando procura fugir quando sente que o seu pé foi aprisionado.
Gritando e soltando chutes, procura se livrar do seu captor.
Quanto mais lutava contra o agarre, mais próximo ficava da besta.
Foi nesse instante que ela sentiu que garras dilaceravam seu magro corpo, retalhando –o.
Lançando nacos de carne, nas paredes e no solo, pintando grotescamente tudo ao seu redor de sangue.
Se esvaindo em sangue e percebendo que sua essência de vida fugia lentamente a cada respiração ofegante.
Olhando o céu, se entrega a dormência que lhe envolve.
Observando as estrelas que brilham no firmamento fita pela última vez o seu olhar na lua.
Em suas pupilas vidradas, fatos de sua miserável vida passa como se fosse um filme de quinta categoria, inapropriado ao Oscar da academia de cinema.
Nesse momento, sente as garras rasgarem lentamente o seu pescoço...
Treze de fevereiro de 3020.
O nascer do sol, sempre era um espetáculo a parte, pois indicava que o dia seria maravilhoso.
Quando os primeiros raios iluminaram o beco, um quadro dantesco se apresentava.
No centro do local, uma cabeça feminina fitava ao vazio, seus cabelos esparramavam solo abaixo, como se fossem uma toalha negra.
Em volta dela pedaços de corpo meio comido jogados de qualquer jeito, ossos reluzindo entre mordidas e nacos de carne serrilhada por dentes pontiagudos.
As paredes rubras de sangue pareciam um pano de fundo a colorir o espetáculo grotesco.
Na atmosfera nauseante ficaram apenas resquícios dos sonhos desfeitos, das dores e miséria de uma mulher morta em vida, perecida na fome de um zumbi humanoide.